Lição 7 – Editora Betel – Jacó no vau de Jaboque

Texto Áureo

“Jacó, porém, ficou só; e lutou com ele um homem, até que a alva subiu”. Gn 32.24

Verdade Aplicada

Buscar em Deus a mudança ra­dical de nossa vida, é a decisão mais sábia que devemos tomar.

Objetivos da Lição

?      Ensinar que os planos dos homens sem Deus nada valem;

?      Mostrar que Deus quer nos ensinar a depender dele; e

?      Demonstrar o valor que é ser tocado pelo Senhor.

Textos de Referência

Gn 32.24 Jacó, porém, ficou só; e lutou com ele um varão, até que a alva subia.

Gn 32.26 E disse: Deixa-me ir, porque já a alva subiu. Porém ele disse: Não te deixarei ir, se me não abençoares.

Gn 32.27 E disse-lhe: Qual é o teu nome? E ele disse: Jacó.

Gn 32.28 Então, disse: Não se chamará mais o teu nome Jacó, mas Israel, pois, como príncipe, lutaste com Deus e com os ho­mens e prevaleceste.

Gn 32.30 E chamou Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face, e a minha alma foi salva.

Gn 32.32 Por isso, os filhos de Israel não comem o nervo encolhido, que está sobre a jun­tura da coxa, até o dia de hoje, porquanto ele tocara a juntura da coxa de Jacó no nervo en­colhido.

 

O Drama de Jacó e Esaú

Jacó Teme a Esaú e Prepara-se para o Encontro

Continuando Jacó o caminho de casa, como vimos na lição 06, Jacó teria de atravessar o território de Esaú, e não pensava que poderia evitar esse encontro. Haveria de tomar a rota comum, e não desviaria caminho para o deserto. Havia comunidades ao longo dessa rota. Daí o seu dilema. Jacó traçou planos de acordo com a razão humana, e esperou que sucedesse o melhor. Recebeu outra visita angelical que preparou a sua mente para a viagem e para o encontro, mas seu temor não parece ter sido aliviado por causa disso. Enviou mensageiros que preparassem o caminho. Mas eis que Esaú, com quatrocentos homens (um verdadeiro exército, para a época), estava vindo ao seu encontro. Ao ouvir isso, Jacó ficou angustiado. Seus pecados o estavam alcançando de novo. O que um homem semear, isso haverá de colher. Ele deve­ria ter-se descontraído, porém. Esaú não era homem que pudesse manter uma inimizade por mais de vinte anos. De fato, assim como as dificuldades de Jacó com Labão tinham terminado com tristes despedidas de membros de uma mesma família, assim seu encontro com Esaú terminaria como uma daquelas felizes reuniões familiares. A bênção do Senhor acompanhava a Jacó por onde quer que ele fosse. Senhor, concede-nos tal graça!

32.1

Anjos de Deus lhe saíram a encontrá-lo. Admiramo-nos das vezes em que os anjos acompanharam Jacó. Eu mesmo levo a sério a realidade desses seres invisíveis. Há muitas evidências em prol da existência dos anjos. Provavelmente, na época de Jacó, eles não eram considerados seres imateriais, mas certamente eram tidos como seres de outra dimensão. Não são uma variedade diferente de seres humanos, nem mesmo aparentados.

Seja como for, os anjos sempre estavam prontos a proteger Jacó, a fim de tranquilizar lhe a mente e infundir-lhe senso de segurança. Ele estava de volta para casa. Coisa alguma poderia impedi-lo ou prejudicá-lo ao longo do caminho. Ver Sl 91.11,12 quanto às grandes promessas associadas aos seres angelicais. Eles são espíritos ministradores (Hb 1.14). Ver as seguintes referências às atividades dos anjos no Gênesis, até este ponto: 16.7,9-11; 19.1; 21.17; 22.11,15; 24.7,8,12 ss.,40; 31.11. Ver também Gn 32.24. Jacó passou por muitas experiências místicas, com ou sem a presença visível de anjos. Conside­remos a sua experiência em Betel (Gn 28.12 ss.), acompanhada por anjos. Ao que parece, todas as grandes mudanças em sua vida foram ajudadas pelo ministério angelical. De quanto carecemos da manifestação da presença divina para ajudar-nos! Não basta ler a Bíblia e orar. Precisamos do toque místico, mormente em períodos de crise e de decisão. Oh, Senhor, confere-nos tal graça!

“Neste ponto, o mundo invisível de Deus tocou abertamente no mundo visível de Jacó” (Allen P. Ross, in loc.).

32.2

Maanaim. No hebraico significa acampamento duplo. Esse foi o nome dado ao lugar quando Jacó, ao retornar de Padã-Arã, teve um encontro com anjos. Ao vê-los, Jacó exclamou: “Este é o acampamento de Deus”. Literalmente, a palavra significa “dois exércitos”. Talvez fossem compostos pelo grupo humano, que Jacó encabeçava, e pelo grupo dos anjos. Ou, talvez, o número dos anjos fosse tão grande que eles pareciam ser não um só, mas dois exércitos. O propósito do relato foi mostrar quão bem Jacó estava sendo acompanhado. Muito poder acompanhava Jacó. Ele mesmo avan­çava em fraqueza e temor. Esaú em breve haveria de encontrar-se com ele, levando-o a temer. Mas Deus estava controlando a situação. Jacó não sofreria dano, pois estava destinado a voltar para casa e iniciar ali uma nova missão. O Pacto Abraâmico garantia a sua segurança e o cumprimento de mais cinquenta anos de vida, prenhes de propósito. Assim também, os propósitos de Deus garantem a nossa vida e guiam-nos de um drama para outro. Jacó ainda tinha mais de um terço de sua vida para viver. Sua volta à Terra Prometida estava garantida.

“Quão frequentemente os anjos são mencionados na história da vida de Jacó! Anjos no sonho-visão da escada, em Betel; o sonho de um anjo que lhe dissera para deixar o território de Labão; anjos agora, que lhe saíram ao encontro, no caminho; a memória de um anjo quando, finalmente, ele impôs as mãos sobre os filhos de José, e disse: ‘O Anjo que me tem livrado de todo mal abençoe estes rapazes’ (Gn 48.16)” (Walter Russell Bowie, in loc).

O nome Maanaim foi posteriormente dado a uma cidade que veio a pertencer à tribo de Gade. Ver II Sm 2.8; 17.24; I Rs 4.14.

32.3

Enviou mensageiros… a Esaú. Quando Jacó enganou seu pai, Isaque, e furtou a bênção (e então já havia arrebatado o direito de primogenitura), estava tratando somente com uma pessoa. Mas agora Esaú avançava contra ele à testa de um pequeno exército de quatrocentos homens. Jacó tinha muita razão para temer; mas ao mesmo tempo, nada tinha para temer, visto que todas as coisas estavam cooperando em conjunto para o seu bem. Antigos atritos tinham desapa­recido. Esaú estava avançando de coração e de braços abertos. E assim, pode­mos dar graças, pois muitos de nossos piores temores na realidade nada repre­sentam, Deus já tomou conta das coisas. Os mensageiros nem tiveram tempo de entregar a mensagem reconciliadora de Jacó. Mas Deus já havia reconciliado os dois irmãos, um com o outro.

Terra de Seir. Essa palavra significa peludo, cabeludo. Provavelmente havia ali muita vegetação, embora não mais atualmente. Seir ficava a muitos quilômetros de Maanaim, mas parece que Esaú, já por vários dias, avançava para onde estava Jacó; e assim, quando os mensageiros partiram, ele já não estava muito longe. Esse lugar ficava ao sul do mar Morto, e estendia-se até o golfo da Arábia (I Rs 9.26). Era um nome alternativo para Edom.

Edom. Essa pala­vra significa vermelho, uma alusão ao repasto vermelho que Jacó vendeu a Esaú, em troca do direito de primogenitura. Essa alcunha foi dada a Esaú (Gn 25.30) e passou dele para a terra em que fora habitar. Tornou-se um nome alternativo para Seir e para a Iduméia, além de designar a terra e seus habitantes, os descenden­tes de Esaú (Gn 25.20, 21, 30 e 32.3), ou, coletivamente, todos os idumeus (Nm 20.18,20,21; Am 1.6,11; Ml 1.4).

32.4

Uma Breve História. Os mensageiros foram enviados para contar a Esaú uma breve história da vida e dos atos de Jacó, desde que se tinham visto pela última vez, cerca de vinte anos antes. A linha central do recado dizia: “Sê amigá­vel para comigo”, ou seja, Jacó buscava as boas graças de seu irmão gêmeo (vs. 5). Era um apelo em favor de paz e de boas relações.

Jacó, o homem de muitas experiências místicas, homem de destino e de poder, o vaso central, em sua geração, do Pacto Abraâmico, por outra parte, era também aquele homem que havia cometido certos erros que ainda o perseguiam. Esse homem teria de sofrer as consequências de sua insensatez anterior. Ele havia defraudado seu irmão e, então, se afastara para uma distância segura de sua vítima. O passado, contudo, não poderia ser esquecido. Ele teria de se encontrar consigo mesmo, o “eu” que ele deixara para trás fazia muitos anos. A lei da colheita segundo a semeadura é muito poderosa. Mas Esaú, o irmão defraudado, mostrou-se moral­mente superior a Jacó, e deixara de odiar. Agora, só queria ver de novo o seu amado irmão gêmeo. A graça de Deus estava atuando em seu coração.

Como peregrino morei. Jacó não havia residido com Labão de forma per­manente. Fora ali apenas um peregrino. Agora estava voltando para casa. Os patriarcas de Israel foram peregrinos e forasteiros na terra (Hb 11.13). Jacó parece ter transmitido a ideia de que já havia sofrido o bastante às mãos de Labão, pelo que, por assim dizer, já havia pago a sua dívida. Isso posto, muito apreciaria se recebesse um tratamento bondoso às mãos de Esaú. Todos acaba­mos pagando as nossas dívidas, de uma maneira ou de outra.

32.5

Volto Rico. Trabalhei muito; enriqueci; tenho vivido bem. Talvez isso indicas­se que ele presentearia Esaú, a fim de suavizar a indignação deste. E acabou dando-lhe mesmo presentes (vss. 14 e 15). Seus presentes foram deveras gene­rosos, mesmo porque seu temor era grande. Algumas vezes, os presentes são peitas disfarçadas, o que por certo ocorreu nesta ocasião.

Jacó não merecia a amizade de seu irmão, mas tinha esperança de poder comprá-lo. Bens materiais serviriam para corrigir as contas? Esaú também havia enriquecido, e por que se importaria com coisas materiais? Só queria oferecer perdão a seu irmão, como também acenar-lhe com a paz. A graça de Deus estava atuando.

32.6

Quatrocentos homens com ele. Fracassara a missão dos mensageiros enviados por Jacó. Esaú passara por eles com pressa, aparentemente de testa franzida, decidido a fazer o mal. A única informação que os mensageiros puderam captar fora que Esaú se encaminhava na direção de Jacó, com um pequeno exército de quatrocentos homens. Talvez ele tenha reunido tal força sem saber o que poderia esperar da parte de Jacó. Afinal, Jacó nunca fora conhecido como homem de negociações justas. Talvez Jacó estivesse atacando com um poderoso batalhão armado. Qual não deve ter sido a surpresa de Esaú ao averiguar que Jacó estava acompanhado somente de mulheres e crianças! (Gn 33.2).

“. . .uma consciência culpada não precisa de acusador. Mais cedo ou mais tarde, ela dirá a verdade” (Adam Clarke, in loc.).

32.7

Teve medo e se perturbou. Jacó trazia muitos bens, mas não estava equi­pado para a guerra. Por outra parte, Esaú parecia bem munido para guerrear. Conforme costumavam dizer os gregos quando as circunstâncias eram impossí­veis de contornar: “Lança tudo ao cuidado dos deuses, e ora”. E foi isso que Jacó fez.

A divisão de sua gente em dois grupos teve o propósito de diminuir as perdas e o derramamento de sangue. Enquanto um grupo fosse massacrado, o outro tentaria escapar. Jacó preparou-se para o pior, ao mesmo tempo que Deus o tinha preparado para receber o melhor. É grandioso quando Deus age além e acima do que esperamos.

“Ora, àquele que é poderoso para fazer infinitamente mais do que tudo quan­to pedimos, ou pensamos, conforme o seu poder que opera em nós. . . (Ef 3.20).

A angústia de Jacó era grande, apesar da visão dos anjos que ele tinha recebido. Deus o tinha encorajado, mas ele estava muito aflito, pois sua fé era fraca. Ele era um quadro do crente comum, conforme sucede à maioria de nós. E então, cada vez que Deus nos dá uma grande vitória, isso nos surpreende de novo.

32.8

Minimizando as Perdas. Jacó havia virtualmente abandonado a esperança de paz e amor. Agora só procurava diminuir as perdas inevitáveis. Um de seus grupos talvez fosse massacrado, mas, enquanto isso, o outro grupo teria a oportu­nidade de escapar. Ele se havia olvidado do amor de Deus, o qual pode (e ocasionalmente assim realmente faz) mudar o coração dos homens. Estamos sempre em dificuldades e apertos, quando deixamos de lado o amor de Deus. A intenção de Jacó era apenas aplacar; mas Deus já havia aplicado o Seu amor. “Fogem os perversos, sem que ninguém os persiga” (Pv 28.1).

Na mente de Jacó, todos os quatrocentos homens de Esaú vinham de espa­da desembainhada na mão. Na mente divina, entretanto, todos vinham de cora­ção amistoso e de braços abertos, acolhedores. Eles eram uma comissão de boas-vindas, e não um exército destruidor.

A Aflita Oração de Jacó (32.9-12)

32.9

Deus de meu pai. Jacó havia traçado os seus planos, e esperava salvar parte de seu grupo. Na sua oração, porém, seu alvo foi mais alto do que isso. Todavia, esse alvo mais elevado só poderia ser atingido mediante o poder divino. Deus já havia feito o trabalho, mas como não sabia disso, Jacó orava insistentemente para que houvesse algum acontecimento especial. Ele teria de esperar até o dia seguinte, a fim de ver o resultado de suas orações, pois ainda teria de passar-se uma noite (vs. 13). Quanto à fórmula por muitas vezes repetida, “Deus de Abraão e de Isaque”, à qual foi acrescentado mais tarde o nome de “Jacó”. O acúmulo de nomes patriarcais, atrelados ao nome de Deus, compunha uma fórmula de monoteísmo e de poder. Era o Deus de Israel, conforme passou a ser chamado mais tarde. Esse acúmulo também emprestava apoio tradicional à nova fé, que se ia formando.

Deus dera ordens a Jacó para que retomasse à sua terra. E Jacó estava obedecendo. Portanto, Jacó estava recebendo a proteção divina, em face de sua obediência. Ademais, como poderia ter cumprimento o Pacto Abraâmico, se Jacó e seus filhos fossem dizimados em campo aberto? Ver Gn 31.13 quanto à ordem divina que lhe fora dada: “volta para a terra de tua parentela”.

“A oração de Jacó… foi notável por sua combinação de grande intensidade com simplicidade de termos. Depois de dirigir-se a Deus como o Elohim de seus pais, ele se aproximou mais Dele, chamando-0 de Yahweh, o qual lhe havia ordenado pessoalmente que voltasse ao lugar onde nascera (Gn 31.13)” (Ellicott, in loc.).

E te farei bem. Deus daria proteção a Jacó, abençoando-o e conferindo-lhe poder, a fim de que fosse o elo que levasse avante a cadeia do Pacto Abraâmico, até que a nação de Israel se tornasse uma realidade. Uma vez mais, pois, é enfatizada a providência de Deus, algo que é tão conspícuo no livro de Gênesis.

32.10

Sou indigno. A maioria das orações pode ser iniciada por uma confissão de indignidade, pois essa é a condição humana geral. A Jacó já havia sido conferida, por repetidas vezes, a misericórdia divina, de mescla com alguma revelação da verdade. Grande propósito divino estava atuando em sua vida. Ele tinha visto muita coisa; esperava ver mais ainda, e, especificamente, a presença protetora de Deus, naquele instante, para que tudo não viesse a perder-se desnecessariamente.

O homem espiritual reconhece essas coisas. Quão frequentemente oramos, baseando nossas petições sobre as bênçãos passadas e sobre o poder já experi­mentado! Como foi o passado, tal será o futuro! Jacó tinha tido ricas experiências. Agora, orava fervorosamente, pedindo forças espirituais e a intervenção divina na sua presente emergência.

Atravessei este Jordão. Isso tinha acontecido cerca de vinte anos antes. Jacó reconheceu que, naquela ocasião, embora não tivesse companhia humana, Deus estivera com ele. E agora, considerasse Deus como ele se tornara dois grupos de pessoas e de animais. “É tudo devido à Tua bênção, ó Senhor. Não permitas que agora tudo se acabe!”

“A mim, o menor de todos os santos, me foi dada esta graça…” (Ef 3.8). Mas, a despeito de sua indignidade, Jacó recebeu uma grande bênção. Tal como lhe acontecera no passado, assim continuaria a ser no futuro!

32.11

Livra-me… e as mães com os filhos. Em sua mente, Jacó imaginava a pior de todas as cenas: as mães impotentes a quererem salvar freneticamente seus filhinhos preciosos, do bronze sem misericórdia das armas de guerra.

“. . .Salmã destruiu Bete-Arbel no dia da guerra: as mães ali foram despedaçadas com seus filhos” (Os 10.14). Essa é a pior possibilidade em uma guerra — as mães e seus filhos sofrendo às mãos de homens ímpios e desarrazoados. O ódio é capaz de liberar a pior crueldade, a destruição inútil de famílias, em meio à barbárie e à selvageria.

32.12

O Pacto Abraâmico, aqui relembrado por Jacó, conferia-lhe esperança na­quela hora. Ver Gn 28.3,4,14 e 31.3 quanto aos elementos reiterados, no que se aplicavam a Jacó. Quanto à metáfora da areia do mar, ver Gn 22.17 (a promes­sa feita a Abraão), que aqui Jacó reivindica com uma promessa feita a ele mes­mo. Em Gn 22.17, exponho o acúmulo de metáforas sobre a multiplicação que poderia ser esperada em resultado daquele pacto. Ver as notas sobre esse pacto, em Gn 15.18. Ora, não poderia haver tal multiplicação dos descendentes de Abraão se agora Jacó e seus filhos fossem mortos. Jacó aplicou essa lógica em sua oração. A fidelidade de Deus faz-nos atravessar as horas mais terríveis.

32.13

Tendo passado ali aquela noite. Jacó prepara-se para o encontro com Esaú, confiando em Deus e nos seus presentes, que haveria de dar a seu irmão no dia seguinte. Era um presente deveras generoso. Mas é melhor perder alguma propriedade do que perder a vida. Esaú havia ameaçado matá-lo (Gn 27.41), e agora parecia estar prestes a poder executar a ameaça. No entanto, outra noite haveria de intervir, antes do fatídico encontro (ver o vs. 21).

Onde Jacó Passou a Noite? Por certo, em Maanaim (vs. 1). “O presente que o homem faz alarga-lhe o caminho…(Pv 18.16).

32.14,15

Um Magnífico Presente. Quinhentos e oitenta animais devem ter formado uma dádiva impressionante. Eram os melhores animais para alimentação, vestes e viagens. Animais domesticados formavam um aspecto importante das riquezas na antiguidade. E aquele que tivesse uma bela esposa e alguns animais conside­rava-se feliz. Jacó mostrou-se realmente generoso. A generosidade era uma ma­neira de alguém preservar a própria vida. No dizer de Adam Clarke (in ioc.), foi um “presente principesco”. Os animais presenteados poderiam ter sustentado uma família durante muito tempo, servindo de virtual pensão vitalícia para um criador de gado. O leite de camela era considerado uma delícia pelos habitantes de todas aquelas regiões. Uma camela produz leite continuamente durante muitos anos. Plínio explana que esse leite era misturado com três partes de água, tornando-se uma bebida muito saudável e saborosa (Hist. Nat. lib. xi cap. 41).

O Princípio Moral. Os erros praticados contra alguém precisam ser corrigidos por meio de restituição, sempre que isso estiver ao nosso alcance. E aquele que assim não o fizer, não terá o direito de invocar a misericórdia divina, chegado o momento de necessidade. A restituição pode e deve ser um ato que demonstre um arrependimento genuíno. Ver Ef 4.28.

Presentes

Mais bem-aventurado é dar que receber. (As 20.35)

O que há de mais importante, em qualquer relacionamento, não é o que se obtém, mas o que se dá. (Eleanor Roosevelt)

Ou qual dentre vós é o homem que, se porventura o filho lhe pedir pão, lhe dará pedra. (Mt 7.9)

O amor é o melhor de todos os presentes.

32.16

Os Três Rebanhos. Ver os versículos imediatamente anteriores, quanto ao número e às espécies desses rebanhos. Há várias razões pelas quais os animais podem ser divididos em três rebanhos:

1º      Seria mais fácil guiar os animais separados, do que se estivessem misturados uns com os outros.

2º      Separados assim, formariam um presente mais impressionante, devido à sua boa ordem.

3º      Acima de tudo, isso fazia parte de uma tática da parte de Jacó. Se Esaú continuasse irado, depois de falar com os servos de Jacó (divididos em sucessi­vos grupos), sua ira teria mais oportunidade de esfriar. Um esquema assim por certo teria abrandado um homem como Labão, que ficaria ocupado em contar os animais, na esperança de receber mais ainda. Esaú, porém, não era desse tipo (Gn 33.9). Antes, ele disse: ‘Tenho o bastante; não quero os teus animais.”

Deixai espaço entre rebanho e rebanho. Isso faria com que os animais dessem a impressão de ser mais do que quinhentos e oitenta. Assim, a ira de Esaú iria abater-se cada vez mais.

32.17,18

Perguntas e Respostas. Por sua vez, a mesma coisa iria acontecendo aos líderes de cada rebanho. Haveria saudações; haveria perguntas acerca da razão daquele rebanho; haveria reafirmações do fato de que Esaú era o senhor de Jacó. Isso iria desgastando a indignação de Esaú. Depois das três séries de animais, viriam as mulheres com seus filhos, Raquel, e, finalmente, o próprio Jacó. Por essa altura, o caminho estaria preparado para o reencontro dos dois irmãos. “A ironia de tudo é que todas aquelas precauções eram desnecessárias” (Walter Russell Bowie, in Ioc.).

32.19

O terceiro sentido provável de os animais terem sido divididos em três reba­nhos é que estes devem ter sido formados, o máximo possível, pela mesma espécie de animais. Ver o vs. 16 quanto às razões possíveis dessa divisão dos rebanhos. Os três rebanhos atuariam como uma introdução à chegada de Jacó (Gn 33.2,3). Mas antes dele mesmo, as mulheres e as crianças deveriam apare­cer. Em seguida, Raquel, a esposa favorita, cuja vida Jacó queria preservar o máximo possível (Gn 33.2).

32.20

Jacó vem vindo atrás de nós. Em outras palavras, Jacó não estava tentan­do evitar o encontro com Esaú. Ele estava chegando. Que Esaú tivesse paciên­cia. Mas antes que houvesse seu encontro com Esaú, Jacó ainda teria de passar por outra poderosa experiência espiritual: a luta com o anjo. E isso haveria de alterar seu nome de Jacó (suplantador) para Israel (Deus Luta, ou Príncipe de Deus). Esaú haveria de encontrar um novo homem. Jacó, pois, haveria de prevalecer, apesar de seus truques e de suas manipulações. O melhor de tudo é que ele seria transformado mais ainda em conhecimento e em progresso espiritual. Jacó seria humilhado e castigado, antes que seu passivo pudesse ser eliminado. Esaú, homem superior a Jacó quanto a vários aspectos, haveria de esquecer-se do passado. E então, haveria unidade e harmonia.

Eu o aplacarei com o presente. Jacó confiava em seus presentes a fim de aplacar a Esaú. Somente depois disso apareceria diante dele. Esperava ver um sorriso naquele rosto, o que lhe daria a entender que tudo estava bem. Mas tudo aconteceu melhor do que ele esperava. Ambos se atiraram um nos braços do outro, chorando comovidos. O amor fraternal mostrou ser mais forte do que o ódio. O hebraico diz aqui, literalmente, “eu cobrirei o rosto dele”, uma expressão idiomática de difícil tradução. Não apareceriam as rugas de indignação no rosto de Esaú; o presente haveria de encobri-las, alterando a sua fisionomia. O amor cobre “multidão de pecados” (Tg 5.20).

32.21

Ficou aquela noite no acampamento. Isso mostra que a apresentação dos presentes a Esaú tomou um dia inteiro. Veio outra noite. Ver o vs. 13 quanto à primeira noite, desde que o reencontro começara a ser preparado, Jacó tinha-se instalado perto do ribeiro do Jaboque, conforme vemos no vs. 22. Ele não sabia ainda, mas nesse local ele passaria por outra grande experiência espiritual. O Anjo do Senhor o guiava, passo a passo. Oh, Senhor, concede-nos tal graça!

32.22

As Preciosas Poucas Vidas. O círculo íntimo de Jacó, aqueles que lhe eram mais chegados, consistia em Lia, Raquel, as duas concubinas, Bila e Zilpa, e os seus onze filhos. Eram esses que faziam parte de sua família imediata, que estavam ao seu lado o tempo todo. Diná sem dúvida também estava presente, embora ela não seja especificamente mencionada. Isso posto, as preciosas pou­cas vidas totalizavam dezessete pessoas, incluindo Jacó. Cada homem tem seu círculo mais interior, e aí o amor doméstico deve manifestar-se mais forte.

O vau de Jaboque. Ou seja, o lugar onde o ribeiro podia ser atravessado. Esse ribeiro, quase um filete de água, descia dos montes da Arábia, passava perto da fronteira com os amonitas, regava a cidade de Rabá, e, então, passava entre Filadélfia e Gerasa, e, finalmen­te, desembocava no rio Jordão, perto do lago ou mar da Galiléia, que ficava a quase cinco quilômetros dali, mais para o sul. Atualmente esse ribeiro chama-se wady Zerqa, nome que significa “torrente azul”. Posteriormente, formou a fronteira entre as tribos de Manassés e Gade. No hebraico, o nome desse rio significa fluir fora ou fluir adiante.

Jacó tinha tido a sua Betel; mas agora teria o seu Jaboque, lugares associa­dos a significativas experiências espirituais que lhe haviam transformado a vida. A transformação espiritual é um processo gradual e eterno. Ninguém chega a atin­gir, nesta vida, todo o seu potencial, mas estará sempre avançando nessa dire­ção.

32.23

E fê-los passar o ribeiro. Do outro lado, o destino esperava por Jacó. O encontro fatídico com Esaú não poderia ser evitado. Jacó enviou à sua frente tudo quanto lhe era precioso. E, então, ele mesmo avançou. Confiando em Deus e nos seus presentes a Esaú, ele prosseguiu, o coração batendo forte, mas com espe­rança. Ansioso, mas sem desesperar. Havia feito tudo quanto podia, de acordo com a razão. E confiava em que Deus faria o resto.

Jacó tinha enviado suas esposas e rebanhos para a segurança, para o alto da serra ao sul. O profundo vale estava destinado a ser o palco de seu conflito solitário. Naquele ponto, a ravina tem entre 6,5 e 9,5 km de largura.

32.24

Ficando ele só; e lutava. Para outros, foram momentos seguros. Mas Jacó tinha ficado sozinho. E, de súbito, viu-se mergulhado em outra profunda experiên­cia espiritual. Oséias 12.4 mostra-nos que sua luta não foi apenas física, mas também espiritual. Como é óbvio, o vs. 26 deste capítulo indica a mesma coisa. Jacó pediu uma bênção antes de permitir que o “homem” se fosse. O vs. 28 mostra-nos que o homem era divino, e lemos no vs. 30: “Vi a Deus face a face”.

A Identidade do Homem. Alguns eruditos creem que temos aí uma aparição do Logos, no Antigo Testamento, o qual, séculos depois, manifestar-se-ia como Jesus de Nazaré, em uma fusão da natureza divina com a natureza humana. Mas quase todos os estudiosos concordam em que esteve envolvido um anjo do Senhor. Notemos que em Gn 18.2 os três homens foram logo identificados como anjos (Gn 19.1). A experiência de Jacó incluiu vários encontros com anjos. Quanto a encontros com anjos, no livro de Gênesis, até este ponto, ver 16.7,9-11; 19.1; 21.17; 22.11; 24.7; 28.12 ss.; 31.11; 32.1.

A Luta às Margens do Jaboque. No hebraico, “luta” (abaK) e “Jaboque” têm sons similares. Parece que abak deriva-se do termo hebraico que significa poeira, porquanto os lutadores logo se veem envolvidos em uma nuvem de poeira. Na Grécia, os lutadores passavam pó no corpo.

Corporal ou Não-corporal? Os críticos dizem que todo o incidente foi apenas alegórico ou mitológico. Alguns eruditos conservadores debatem-se em torno da ideia de como um anjo pode assumir corpo físico, mesmo temporariamente, ou fingir ter um corpo que pode ser tocado e parece sólido. Nos tempos de Jacó, isso não constituía problema, já que os anjos não eram, provavelmente, concebidos como seres imateriais, embora fossem vistos como seres de outra dimensão, não sendo outra ordem de seres humanos. Apesar de haver muita evidência em favor de seres imateriais, e de esses seres poderem assumir corpo sólido, ou nos fazerem pensar que eles possuem corpos sólidos, restam ainda muitos mistérios em torno da questão, tal como há mistérios que circundam a própria vida. Logo, é inútil indagarmos quanto a essa questão. Simplesmente não sabemos como re­solver tais problemas. Há um intercâmbio de energia e de matéria, sendo provável que essa realidade esteja por trás de tais fenômenos de uma maneira que não sabemos explicar.

Os intérpretes judeus explicavam de forma variegada este texto: Foi uma visão (Maimônides); foi um fantasma (Josefo); foi tudo imaginário ou um anjo (Targum de Jônatas, que chama esse anjo de Miguel).

32.25

Vendo este que não podia com ele. Jacó era forte demais, e o anjo não conseguia prevalecer sobre ele, motivo pelo que lhe infligiu uma injúria física. Algum golpe mais violento deixou-o capenga, embora a natureza do golpe não seja determinado no texto. Poderia um homem continuar a lutar, com o osso da coxa fora de sua junta? Nesse caso, havia muita coragem em Jacó. Ellicott opinou que se tratava de uma luxação. Mas a despeito de seu tendão fora de lugar, ele continuava lutando. Ele não somente continuou lutando, mas também prevaleceu. Lembremo-nos de que isso tinha não somente um aspecto físico, mas também um aspecto espiritual. Assim, Jacó estava sendo transformado, e obteria uma bênção especial, acompanhada pela mudança de seu nome. Ele prevaleceu con­tra um anjo; mas não demoraria a prostrar-se até o chão, por sete vezes, diante de seu irmão, Esaú (Gn 33.3)!

Embora incapacitado, ele continuou lutando. Isso mostrava a determinação de Jacó. A perseverança é o mais importante elemento no sucesso em qualquer atividade. Mas por trás da perseverança deve haver entusiasmo. No grego, essa palavra significa, literalmente, “estar cheio de Deus”.

32.26

Já rompeu o dia. Um novo dia estava raiando na vida de Jacó, um dia muito abençoado, ou, talvez, o mais abençoado de sua vida. A luta se prolongara por boa parte da noite; Jacó estava chegando à vitória; o alvorecer trouxe-lhe o triunfo. O lutador celeste desejou ir-se embora, mas Jacó era forte demais para ele, e só lhe permitiria ir-se se lhe desse uma bênção divina. Desse modo ficamos sabendo que Jacó acabou por entender que nada havia de ordinário naquela luta. Ele estava envolvido em outra poderosa experiência mística. Ao romper a alva, surgiu também um novo Jacó, agora chamado Israel. Ele ainda tinha temores. Haveria de prostrar-se diante de Esaú. Mas um grande marco espiritual havia sido atingido. O passado ficara no passado.

“Na combinação de bem e de mal que havia em Jacó, havia dois fatores de nobreza que o salvavam. O primeiro desses fatores era a consciência de que a vida tem um significado divino... e o segundo era a sua… determinação” (Walter Russell Bowie, in loc.).

É provável que o texto dê a entender que Jacó, para enfrentar essa luta, recebeu uma força sobre-humana. Foi-lhe permitido ultrapassar as suas próprias forças, uma provisão divina,

A pessoa derrotada precisava ceder diante das exigências da pessoa vitorio­sa. Isso assegurou a bênção pedida por Jacó. Ele havia conseguido um extraordi­nário triunfo, por ter vencido um extraordinário adversário.

32.27

Jacó. Esse fora seu nome, até aquele instante. Tal nome o havia caracterizado no passado. Ele havia sido o enganador, o astuto manipulador, o suplantador. Esse era o Jacó natural e carnal. Ele tinha sido um homem superficial, que ignorava a espiritualidade mais elevada, ao mesmo tempo que cultivava sua natureza mais baixa. Até ali ele tinha ignorado o impacto de seus pecados. Tinha prosperado materialmen­te, e até havia obtido alguma espiritualidade, mas continuava a ser apenas Jacó. “O agarrador de calcanhares fora apanhado” (Allen P. Ross, in loc.). Desse modo, fora envolvido em uma transação divina, e recebeu uma nova expressão de vida.

32.28

Israel. O novo nome de Jacó. Os antigos, com frequência, mudavam de nome quando havia alguma profunda mudança na vida, ou quando esperavam que houvesse tal mudança. No livro de Gênesis já vimos os casos de Abrão (nome mudado para Abraão, ver Gn 17.5) e de Sarai (nome mudado para Sara, ver Gn 17.15).

Israel. É admirável o grande número de possíveis sentidos que os intérpretes dão a esse nome. Apresento abaixo apenas uma amostra:

1.      “Deus luta”. Essa é a etimologia popular, que também pode indicar o verdadei­ro sentido do nome.

2.      “Deus governa”.

3.      “Aquele que luta com Deus” (Os 12.3,4).

4.      “Aquele que prevalece com Deus” (Os 12.3, de acordo com outra interpreta­ção).

5.      “Príncipe de Deus”. Ver o termo hebraico sar (como se vê no nome de Sara), que significa “príncipe”.

6.      Por extensão, “príncipe de Deus que tem poder diante de Deus”.

7.      “Príncipe que prevalece diante de Deus”.

Todos esses nomes têm aplicações espirituais e morais. Se os estudiosos do idioma hebraico não nos podem fornecer uma resposta única, pelo menos fica claro um ponto: o fraco Jacó tornou-se o poderoso Israel, aquele que lutara com um ser angelical e vencera, mediante um poder miraculoso; agora era um príncipe de Deus que poderia prevalecer diante de Deus e dos homens; tinha lutado contra disparidades impossíveis e tinha vencido. Deus lutaria por meio dele na futura nação de Deus, e essa nação venceria. O Messias viria ao mundo por intermédio dele, a fim de abençoar todas as nações, em consonância com o Pacto Abraâmico. Por meio desse pacto, todos os povos haverão de ter poder diante de Deus e de prevalecer.

O novo nome indica aquela transformação em nós que nos torna capazes de atingir toda a nossa potencialidade espiritual, para sermos conformados segundo a imagem de Cristo de uma maneira especial e ímpar. Isso faz de nós aquilo que poderemos vir a ser espiritualmente, o que nos confere tremendas potencialidades.

O crente torna-se participante da natureza divina (II Pd 1.4).

“Os ideais que embalamos, os propósitos que mantemos, a capacidade que sentimos de atingir qualquer coisa mais excelente do que já pudemos atingir — todas essas coisas estão contidas naquele novo homem escrito sobre a pedra branca que todo homem tem o privilégio de usar sobre o seu peito” (Charles R. Brown, em seu livro, “What Is Your Name?” referindo-se ao trecho de Ap 2.17).

32.29

0 Poder dos Nomes. Uma antiga superstição diz que há uma espécie de poder mágico nos nomes próprios. Até hoje, os exorcistas parecem obter maior êxito se conseguirem fazer o demônio proferir (e revelar) o seu nome. Parece que isso ajuda no exorcismo. Se isso pode ser exagerado, e se não sabemos o que Jacó tinha exatamente em sua mente, pelo menos neste versículo há provas de uma verdade eterna. Deus tem muitos nomes. Cada nome revela ou um atributo de Deus, ou alguma obra especial ou operação do Ser divino. Jacó pensava que poderia obter maior poder se soubesse o nome daquele ser divino (o anjo, ver o vs. 24), obtendo grandes bênçãos, eficiência e poder em sua vida. Talvez até, em outras ocasiões, pudesse ter maior poder em suas orações ou encantamentos, mediante o uso desse nome. Os nomes eram concebidos como essência da personalidade e do caráter de uma pessoa, e não meros rótulos de pessoas.

O poder divino apossara-se de Jacó, e Jacó apoderara-se do poder divino. Agora, queria saber como deveria chamar esse poder. Queria preservá-lo e usá-lo. A Bíblia conta a história de como Deus vai sendo descoberto pelo homem. As experiências místicas trazem até nós a presença divina. Há poder nessa presen­ça. Precisamos estudar a Bíblia e orar, mas também precisamos de experiências pessoais com Deus. Aquele que tem essas experiências está em vantagem em relação ao que só tem argumentos.

Reversão da Idolatria. O anjo não revelou o Seu nome, tal como, em outra ocasião, o mesmo Ser recusou-se a dizer Seu nome a Manoá (Jz 13.18). Agora Jacó tornara-se Israel, e estava progredindo espiritualmente. Ele conhecia Elohim e Yahweh. Isso lhe bastava. Alguns pensam que não deveria ser-lhe revelado o nome de um anjo, o que poderia acrescentar um falso deus à sua teologia. Bastava-lhe saber que tinha lutado com o anjo e tinha vencido um poder divino, e que esse poder o havia abençoado. O anjo era divino, mas não Deus. Outros pensam que o nome do anjo não lhe foi revelado para que Jacó não pudesse dispor do poder de um anjo. Cf. Êx 3.13,14 e Jz 13.17.

32.30

Peniel. Esse termo hebraico signi­fica “face de Deus” (ou “forma de Deus”). No Antigo Testamento, figura como nome de duas pessoas e de uma cidade. O local é o que aparece no presente texto. A sua localização exata ainda não foi identificada. Ficava em algum ponto a leste do rio Jordão, não longe de Sucote (Gn 33.17 e Jz 8.5,8). Posteriormen­te, foi edificada uma cidade com esse nome (Jz 8.8; I Rs 12.25). Alguns afirmam que ficava a seis quilômetros e meio de Maanaim.

Jacó temia ver o rosto de Esaú, mas acabou vendo a face de Deus, por meio do anjo que lhe trouxe inesperada bênção e vitória. Esse tipo de visão era tido como potencialmente fatal, e, no entanto, Jacó recebeu permissão de viver e também de crescer espiritualmente em resultado da experiência. Ver Gn 16.13 e Êx 33.20 quanto a algo similar. Ver também Gn 28.19; 31.47 e 32.2. Ninguém jamais poderá ver Deus em sua verdadeira essência (Jo 1.18), mas Ele tem sido visto de maneiras secundárias, figuradas e visionárias.

Penuel é uma forma alternativa do nome. Ele deixou o lugar onde lutara com Deus. Agora era Israel, e não mais Jacó. Alguns estudiosos pensam que foi nesse ponto que Jacó se converteu. Ele era um novo homem a caminho de um novo lar. Mas antes disso teria de encontrar-se com Esaú. Deus, porém, também cuidaria disso. Agora Jacó estava aleijado, e andava capengando. A marca da luta tinha ficado nele. Alguns supõem que Jacó tenha ficado permanentemente aleijado como lembrete. Talvez, mas não dispomos de informações sobre o assunto. Con­tava-se na família de meu pai (que trabalhava em uma estrada de ferro) a história de um empregado da estrada de ferro que vivia longe de Deus. Em um acidente, ele perdeu uma perna. Isso transformou a sua vida, e acabou produzindo a sua conversão. Seu aleijão tornou-se um lembrete permanente de sua “vitória”.

32.31

“Após o toque deformador, a luta de Jacó tomou uma nova direção. Agora aleijado em suas forças naturais, tornou-se ousado na fé” (Allen P. Ross, in loc.).

32.32

O nervo do quadril. Para os judeus tornou-se proibido comer dessa parte de um animal, porque ali o Anjo do Senhor tocara em Jacó e o deixara aleijado. Assim, essa parte do corpo sempre foi considerada um tanto sagrada; e esse sentimento foi transferido até para os animais que servissem de alimento. A proibição celebrava a experiência de Jacó, que era considerada uma importante experiência para Israel; pois a Israel é que Deus se tinha manifestado, tornando-o um Príncipe de Deus. Essa porção dos animais tornou-se um memorial da pre­sença divina. “O que seria esse nervo, nem judeu e nem cristão são capazes de dizer, e isso nada acrescenta ao nosso conhecimento e nem a uma verdadeira compreensão do texto, além de multiplicar conjecturas” (Adam Clarke, in loc.). Esse erudito pensa que a parte que foi injuriada foi a virilha. A Vulgata diz que o nervo encolheu, o que é refletido em algumas traduções. Provavelmente isso indica que houve uma injúria permanente no caso de Jacó. Mas a Septuaginta diz aqui “amortecido”, o que talvez indique uma injúria temporária.

Uma Espécie de Ordenança. No caso de Abraão, Deus impôs a circuncisão. No caso de Israel, certa parte do corpo de animais a serem consumidos foi vedada na alimentação, porquanto Deus havia infligido outro tipo de operação física em Jacó, por assim dizer.

John Gill pensa que a questão inteira envolve apenas uma superstição, além de informar-nos que na Mishna todo um capítulo foi dedicado a tratar da questão, proibindo que certa parte de um animal morto fosse comida. Em certos círculos houve tanto exagero quanto à questão que os judeus se negavam a comer qualquer nervo da parte posterior do corpo de um animal, visto ser difícil identificar exatamente qual nervo estaria envolvido. Outros chegaram ao extremo de comer qualquer porção dos quartos traseiros de um animal, e não apenas os nervos daquela porção.

Bibliografia R. N. Champlin


Deixe um comentário