Fone: EBD Areia Branca
Texto Áureo
“Depois, chamou Jacó a seus filhos e disse: Ajuntai-vos, e anunciar-vos-ei o que vos há de acontecer nos derradeiros dias”. Gn 49.1
Verdade Aplicada
Como Povo de Deus neste mundo, devemos nos ocupar com o futuro, mas nunca nos preocupar com ele.
Objetivos da Lição
? Ensinar que o Senhor tem um futuro glorioso para o seu povo;
? Mostrar que a Palavra do Senhor se cumpre; e
? Apresentar o glorioso caminho do Senhor.
Textos de Referência
Gn 49.3 Rúben, tu és meu primogênito, minha força e o princípio de meu vigor, o mais excelente em alteza e o mais excelente em poder.
Gn 49.8 Judá, a ti te louvarão os teus irmãos; a tua mão será sobre o pescoço de seus inimigos; os filhos de teu pai a ti se inclinarão.
Gn 49.19 Quanto a Gade, uma tropa o acometerá; mas ele a acometerá por fim.
Gn 49.20 De Aser, o seu pão será abundante e ele dará delícias reais.
Gn 49.22 José é um ramo frutífero, junto à fonte; seus ramos correm sobre o muro.
Gn 49.27 Benjamim é lobo que despedaça; pela manhã, comerá a presa e, à tarde, repartirá o despojo.
Jacó Abençoa Seus Filhos e Morre (49.1-33)
Os críticos supõem que o poema se tenha originado de certo número de oráculos originais e independentes que pertenceriam às tribos (de um período posterior), os quais um redator teria coligido, transformando-os em bênção de Jacó para seus filhos. Os eruditos conservadores, todavia, rejeitam essa fragmentação, como também a ideia de que se trata de uma compreensão tardia, e não de uma previsão.
A bênção foi dada mediante discernimento profético e iluminação divina, prevendo, em lances bem amplos, a história de cada tribo de Israel, dali por diante. O Pacto Abraâmico (ver Gn 15.18) garantiria o sucesso de cada tribo como uma unidade formadora de Israel, porquanto essa nação deveria desenvolver-se de acordo com o plano divino. Israel tornar-se-ia o agente por meio do qual Deus daria sua mensagem que beneficiaria todas as nações. O Messias levaria essa mensagem à sua plena fruição, tornando-a eficaz para todos os povos (ver Gl 3.14).
49.1,2 Começo do Oráculo. A natureza inerente e a vida de cada patriarca seria o fator determinante de como cada tribo (descendente dele) desenvolver-se-ia. Nesse conceito temos uma espécie de genética espiritual, e não somente de genética física. Além disso, por trás de tal desenvolvimento havia o propósito divino, que se manifesta mediante a Sua providência. Destinos os mais variegados seriam concretizados em consonância com as qualidades morais, como também de acordo com as qualidades espirituais. Este capítulo lança um rápido vislumbre das operações de Deus no tocante a Israel, A fidelidade seria um fator importante. Haveria muitas debilidades e falhas, mas a vontade de Deus acabaria por triunfar, finalmente; de outra sorte, o Pacto Abraâmico redundaria em fracasso.
Nos dias vindouros. O poema em seguida é apresentado como uma profecia. John Gill diz que “os dias vindouros significam dali por diante, até a vinda do Messias, o qual figura na profecia”. Vemos aqui uma espécie de galeria de tipos humanos, bons e maus, e também indiferentes; mas o propósito divino atuaria através de todos os elementos, cumprindo um propósito. Deus usa o livre-arbítrio humano, mas sem destruí-lo, embora não saibamos dizer como isso pode acontecer.
O Poder das Palavras de um Homem Moribundo. Os hebreus acreditavam que as palavras de um homem moribundo revestiam-se de poder todo especial. E isso seria tanto mais verdade no caso de um dos patriarcas de Israel.
49.3 Rúben. Ele era o filho primogênito de Jacó. Mas por haver violentado Bila, concubina de seu pai, perdeu aquele direito, o qual foi transferido para Efraim (conforme alguns pensam) ou para Judá (de acordo com outros). Como primogênito e devido a qualidades inerentes, ele tinha vários pontos excelentes. Mas perdeu essa posição por seu momento de desvario no tocante a Bila. O território da tribo de Rúben ficava a leste do mar Morto. Essa era uma das tribos liderantes; mas ainda no começo de sua história os rubenitas foram engolfados pelos moabitas (Jz 5.15,16; Dt 33.6). E foi assim que, finalmente, como tribo, Rúben não seria “o mais excelente” (vs. 4).
Excelências. “. . .dignidade, poder, autoridade na família, proeminência sobre seus irmãos, uma dupla porção dos bens, sucessão no governo, e, conforme é comumente entendido em todos os Targuns, o exercício do sacerdócio” (John Gill, in loc.). Se (vs. 4) ele não tivesse pecado como pecou, teria obtido essas excelências.
“É um claro fato histórico que nenhum rei, juiz ou profeta, até onde ficou registrado, teve origem na tribo de Rúben” (Ellicott, in loc.).
49.4 Impetuoso como a água. Destarte, ele não se mostraria excelente, a despeito de todas as suas vantagens. Não deveríamos olvidar seus atos de misericórdia, quando ele tentou impedir seus irmãos que queriam prejudicar José (Gn 37.22,29). Ele era forte quanto à misericórdia e ao amor, e esse ponto não deve ser deduzido dele. Mas era homem moralmente fraco e permitia que suas paixões o dominassem, a ponto de haver atacado sexualmente Bila (Gn 35.22). Digo aqui atacado, porque não é provável que Bila, concubina de Jacó por muitos anos, tenha consentido o ato. Seu ato desvairado custou caríssimo a Rúben. Sua tribo herdou sua fraqueza moral e instabilidade.
José, nas pessoas de Efraim e Manassés, ao que tudo indica, recebeu a dupla porção do direito de primogenitura, de tal maneira que o ato de abençoar veio a ser ligado à menção aos dois filhos de José.
49.5 Simeão e Levi. Havia a tribo de Levi, que era a décima terceira tribo. No entanto, os levitas perderam sua condição oficial de tribo, quando lhes foi vedado ter um território, a fim de que pudessem tornar-se a tribo sacerdotal. Ver Nm 1.47 ss. José não teve uma tribo com seu nome, mas teve duas tribos, uma em nome de Efraim, e outra em nome de Manassés, ambos seus filhos. Por conseguinte, dos doze filhos de Jacó, dez deles produziram tribos oficiais. A essas foram adicionadas as tribos de Efraim e Manassés, aos quais Jacó adotara como seus próprios filhos. Isso completou o número de doze tribos.
“Simeão e Levi aparecem aqui juntos por terem liderado o ataque contra os siquemitas com armas de violência (Gn 34.25-30). Levi, que antes formava uma tribo, acabou tornando-se uma classe sacerdotal (Êx 32.26-29; Dt 10.8,9). Simeão, com a passagem do tempo, foi absorvido pela tribo de Judá” (Oxford Annotated Bible, in loc.).
Jacó Condenou a Violência. No decurso de sua vida inteira, Jacó envolveu-se somente em uma aventura militar (Gn 48.22); e isso por pura necessidade. Observemos que três versículos foram dedicados a essa questão. Jacó falou com veemência contra a violência. A violência produziu efeitos negativos a longo prazo entre as tribos que descendiam daqueles homens violentos.
49.6 Poeticamente, o patriarca continuou vergastando as atitudes violentas. Ele invoca sua própria alma, sua vida interior e as suas intenções, a nada terem que ver com os conselhos secretos vis dos violentos. Sua honra não deveria ser maculada mediante a união com os tais; mediante o contato com as matanças e atos destrutivos de tais pessoas. Por inspiração, o texto nos fornece um juízo moral, do ponto de vista divino, contra os atos violentos de Simeão e Levi. Ambas as tribos deles descendentes posteriormente foram dispersas. Simeão desintegrou-se, e suas terras foram engolfadas pela tribo de Judá e a própria tribo foi absorvida (Js 19.1,9). No entanto, visto que a tribo de Levi tornou-se a tribo sacerdotal, acabou ficando com uma parte melhor (Js 21).
No seu conselho. No hebraico temos o termo sod, “tapetezinho”, ou seja, o colchão fino dos orientais. Duas pessoas que se sentassem em tal colchão estariam em comunhão íntima, em liga, por assim dizer. Jacó não queria participar da liga violenta deles.
Mataram homens. Traiçoeiramente, eles mataram muitos, quando estes não podiam defender-se — um ato insensato e repelente.
Jarretaram touros. Simeão e Levi não somente destruíram vidas humanas, mas também aleijaram animais e destroçaram coisas, em seu furor descontrolado. Alguns pensam que o autor sagrado falava aqui metaforicamente, indicando Siquém, a quem teriam torturado e matado sem nenhum sinal de misericórdia.
Algumas versões dizem aqui “escavaram uma parede”. Isso se deve a uma confusão entre as palavras hebraicas shor, “boi,” e shur, “parede”. Se a menção é mesmo a uma parede, então devemos pensar não na muralha da cidade de Siquém, o que seria um feito demasiado para dois homens, e, sim, em alguma parede da casa de Hamor, pai de Siquém. O episódio que causou tantos crimes está registrado no capítulo trinta e quatro do Gênesis.
49.7 Furor… ira. O furor deles era “forte”, e a ira deles era “dura”. Ambas as atitudes negativas mereciam uma maldição.
Esta passagem “… parece atribuir o quase completo desaparecimento das tribos que tinham os seus nomes ligados a uma guerra fratricida entre eles. Simeão, em tempos históricos, tornou-se apenas um clã dentro da tribo de Judá… e da tribo de Levi restou somente o sacerdócio” (Cuthbert A. Simpson, in loc.).
Jacó estava com a razão, pois, quando, em sua indignação, declarou: “Vós me afligistes e me fizestes odioso entre os moradores desta terra…” (Gn 34.30).
“Em qualquer nação, quando os homens se alcoolizam com o poder e deixam à solta a violência, pode repetir-se o pecado mortal de Simeão e Levi, o qual deve ser denunciado e, se não houver arrependimento, leva fatalmente à condenação’ (Walter Russell Bowie, in loc.).
Eles tinham tratado o próprio irmão deles, José, da mesma maneira sem dó (Gn 42.21).
Dividi-los-ei… e os espalharei. Haveriam de receber o mesmo tratamento que tinham dado a outros. “No deserto, os simeonitas diminuíram de cinquenta e nove mil e trezentos para vinte e dois mil (Gn 26.14). E após a conquista da terra de Canaã eles estavam tão débeis que apenas quinze cidades lhes foram alocadas, e mesmo assim elas estavam dispersas dentro do território de Judá. E foi assim que acabaram mesclando-se e foram absorvidos, embora alguns se tenham retirado, tornando-se nômades no deserto de Parã. No caso de Levi, entretanto, a maldição foi transformada em uma bênção, em face da fidelidade da tribo em uma ocasião muito testadora (Êx 37.26-28)” (Ellicott, in loc.).
“Levi não recebeu herança, exceto quarenta e oito cidades espalhadas por diferentes partes da terra de Canaã” (Adam Clarke, in loc). Estritamente falando, Levi deixou de ser uma tribo quando se tornou uma classe sacerdotal. Ver Gn 49.5.
49.8 A Exaltação de Judá. A tribo de Judá obteria vitórias sobre inimigos externos e internos, e exerceria poder sobre as demais tribos. Foi exatamente o que sucedeu nos dias de Davi. Salomão deu início a um período de paz, tendo vencido guerras com forças estrangeiras, e a capital da nação continuou sendo Jerusalém (desde os dias de seu pai, Davi). Os críticos supõem que as informações dadas neste versículo nos ajudem a datar a escrita do livro de Gênesis, ou seja, após a época de Davi. Mas os eruditos conservadores entendem que temos aqui uma profecia sobre a liderança da tribo de Judá.
… te louvarão. Portanto, temos aqui um jogo de palavras com o nome de Judá, que significa louvor. “Louvor será louvado.” Ver Js 14.11; 15.1; Jz 1.1,2 quanto a vitórias militares decisivas dessa tribo. Ver também Sl 18.40. O leão era o emblema da tribo de Judá. Ver Nm 2.3; Ez 1.10. Davi obteve notáveis vitórias. Ele era da tribo de Judá. Ver I Cr 14.16. O Messias é o Leão da tribo de Judá (Ap 5.5).
… se inclinarão a ti. Judá produziu certo número de reis, obtendo assim a posição suprema e sendo reverenciado pelas outras tribos. O Rei Messias culminou a linhagem em sua glória máxima. As maiores bênçãos foram reservadas para Judá e para José. Essas tribos descendiam dos grandes patriarcas, e a história encarregou-se de exibir suas qualidades. José foi um dos grandes heróis de Israel; e não menos heroico foi Davi, da linhagem de Judá. Grande é aquela nação cujos heróis são realmente grandes homens, não meramente em seus feitos militares, mas também em justiça e na espiritualidade.
A excelência que deveria caber a Rúben terminou sendo de Judá.
Judá é a única tribo que se tem projetado até os tempos modernos. As tribos do norte, Israel, perderam-se para sempre por ocasião do cativeiro assírio. Devem ter ficado apenas alguns remanescentes daquelas tribos no reino do sul, Judá. Terminado o cativeiro babilônico, foi um remanescente de Judá (com traços de outras tribos, mormente Benjamim e Levi) que repovoou a Terra Santa. Em consequência, essa tribo vem atravessando os séculos do longo cativeiro romano, que começou em 132 D. C. E foram descendentes desse cativeiro que estabeleceram o moderno sionismo (fins do século XIX), que redundou na formação do estado de Israel (em maio de 1948).
No Apocalipse, temos previsão de uma reorganização futura das tribos de Israel, durante o período da Tribulação, estendendo-se pelo milênio adentro. Ver Ap 7.1-8. Interessante é observar que ali a tribo de Efraim é chamada “José” (a tribo de Manassés é uma tribo distinta da tribo de José), a tribo de Levi torna-se uma tribo com todos os direitos, e a tribo de Dã não é mencionada. Nessa reorganização, a tribo de Judá ocupa o primeiro lugar.
49.9 Judá é leãozinho. Nessa metáfora achamos uma ilustração do vigor juvenil e do poder dessa tribo. O leão cresce alimentando-se de presas, sendo o rei das savanas, motivo pelo qual os outros animais se lhe sujeitam.
Deita-se como leão, e como leoa. É a leoa que caça, por ser mais lépida, embora o leão é que fique com “a parte do leão”. O leão é um animal muito feroz, e ninguém ousa despertá-lo ou agitá-lo, por causa de sua força e ferocidade. A fim de proteger seus filhotes, a leoa recebeu uma natureza ainda mais irritável que o macho da espécie, pelo que é mais fácil despertar-lhe a violência. O leão é o rei dos animais, e isso ajusta-se bem como ilustração de Judá em sua excelência e predomínio sobre outras criaturas. No Apocalipse, temos um dos títulos do Messias, “o leão da tribo de Judá” (Ap 5.5). Isso Lhe garante vitória sobre todos os inimigos, como protetor dos justos. Comparar essas duas últimas linhas com Nm 24.9, um trecho quase idêntico, provavelmente uma citação de outro poema.
Os filhos de Jacó usavam um sinete pendurado ao pescoço. Cada sinete tinha seu emblema (ver Gn 38.18), e podemos supor que o emblema da tribo de Judá era o leão. A comparação de Judá com o leão pode ter sido sugerida por essa circunstância.
49.10 O cetro. Ou seja, o cajado do dirigente (Nm 24.17), símbolo de autoridade tribal e real. Tratava-se de um cajado adornado com entalhes e transferido de pai para filho. Ver sobre Gn 38.18, sobre o cajado de Judá. A princípio, esse emblema apontava para organização tribal e autoridade, e, então, veio a indicar domínio nacional. Muitos reis surgiram dentre a tribo de Judá, começando por Davi, e chegando até o Messias, o Rei eterno.
Até que venha Siló. Os intérpretes não concordam quanto ao sentido da palavra Siló, nem quanto ao seu emprego neste ponto. Mas todos pensam que temos aqui uma antiga predição e expectação messiânica; porém não se sabe em qual sentido exato devemos entender essa predição. Siló era nome de uma cidade da tribo de Efraim, e não da tribo de Judá, assim o texto não pode indicar que o poder permaneceria com Judá até que o Messias chegasse à cidade de Siló. Aqui um breve sumário dessas ideias:
1. Não está em foco a cidade de Siló, em Efraim.
2. Talvez devamos entender Siló como um substantivo próprio, um título do Messias. Esse título significa “pacífico” ou “pacificador”. Se essa é a verdadeira interpretação, então temos aqui o Messias como o Príncipe da Paz (Is 9.6).
3. Ou o termo pode ser entendido como um adjetivo, ligado ao substantivo “cetro”. Ou seja, temos aqui a frase “o cetro, a quem pertence”. Nesse caso, o sentido seria que o cetro não se apartaria de Judá até que fosse dado, tornando-se possessão daquele que deveria vir, e a quem realmente pertence. Isso significa que o poder real persistiria em Judá até que viesse o Messias, a quem realmente pertencia a autoridade. Se essa é a interpretação correta, então o versículo é um paralelo de Ezequiel 21.26, onde virtualmente a mesma expressão refere-se à coroa. Cf. Is 11.1-9.
4. Ou, então, devemos entender como “até Siló”, embora essa fosse uma localidade de Efraim, o que significaria que o domínio do Messias ampliar-se-ia a todas as tribos e lugares. Siló foi um centro de fé religiosa em Israel. O Messias substituiria todas as formas religiosas, unificando-as.
Todos concordam que temos aqui uma declaração messiânica (e os críticos dizem que foi adicionada ao texto em algum tempo posterior, quando essa expectação se tornara comum). Mas de que maneira e com qual sentido exato, não podemos estar certos.
49.11 Fertilidade e Abundância. Isso deveria caracterizar a carreira do Messias, do que a vinha e a uva são símbolos. O suco da uva seria tão abundante que Suas vestes seriam lavadas nele. Um viajor, que estivesse chegando, cansado e sujo, poderia amarrar seu jumento a uma videira a fim de lavar suas vestes sujas no suco da uva, tão abundante ele seria. Grande prosperidade, pois, foi prometida a Judá, culminando no bem-estar que o Messias traria.
Sangue de uvas. Devemos entender aqui “sangue” como o suco da uva, pois no Oriente a uva vermelha é mais apreciada do que a uva branca. Portanto, essa abundância seria acompanhada por classe, estilo, excelência. “Certas regiões do território de Judá eram famosas por seus vinhos primorosos, especialmente Engedi (ver Ct 1.14).” Os intérpretes cristãos pensam que a “jumenta” é aqui um símbolo dos povos gentílicos. Nesse caso, está em foco a missão universal de Cristo. Ele estenderia Sua prosperidade a todos os povos; e o próprio Novo Testamento serve de ilustração disso. Seja como for, a maior parte dos Targuns e os antigos intérpretes judeus viam este versículo por um prisma messiânico. Ver Is 53.1; Ap 19.16; Eclesiástico 39.31 e 50.16.
49.12 Não devemos pensar aqui em intoxicação alcoólica, e, sim, em abundância, uma metáfora um tanto desajeitada. Os olhos dos membros da tribo de Judá seriam avermelhados de vinho: abundância, mas enfatizada de uma forma diferente, a mensagem do versículo anterior. Por igual modo, o outro alimento básico, o leite, também seria abundante, de tal modo que os dentes dos judaítas seriam brancos de tanto tomarem leite. A Vulgata diz “brilhante” em vez de vermelho, e isso é uma interpretação, ou mesmo uma tradução direta. Alguns estudiosos pensam que a interpretação verdadeira é a seguinte: “Seus olhos serão mais resplendentes do que o vinho; seus dentes mais brancos do que o leite”. Tal opulência é predita no que concerne ao milênio (Is 61.6,7; 65.21-25; Zc 3.10). Todavia, alguns pensam que esse versículo não chega a envolver o milênio em seu alcance. De qualquer modo, as bênçãos em Cristo são riquíssimas, e essas bênçãos vêm através de Judá a Sua tribo.
49.13 Zebulom. Essa tribo merece apenas um versículo, ao contrário de Judá e José (vss. 22 ss.). Zebulom ocuparia uma posição geográfica favorável, com acesso ao mar Mediterrâneo, o que lhe produziria riquezas. Sua expansão levaria a tribo às fronteiras com Aser (ver o vs. 20).
Sidom. Ver sobre esse lugar, em Gn 10.15. “Zebulom e Issacar… sugariam a abundância dos mares” (Ellicott, in loc.). Sidom, um porto marítimo, daria acesso à abundância.
49.14 Issacar. Essa tribo mereceu uma profecia breve e não muito lisonjeira. Como um jumento forte, ela seria forçada a carregar duas cargas (uma de cada lado), o que significa que seria sujeitada a trabalho forçado em favor de outros, uma virtual tribo escravizada. Os críticos veem nessas declarações certo escárnio, alusivo à submissão confortável de Issacar ao domínio estrangeiro, ao preço de sua liberdade pessoal. Essa tribo, por grande parte de sua história, mostrou-se subserviente aos cananeus. “Seu verdadeiro caráter era preguiçoso, inativo e lugar-comum, e Jacó comparou-a a um jumento forte. Os homens da tribo serviriam apenas de burro de carga, como se fossem um cavalo de puxar carroça, atado a duas cargas” (Ellicott, in loc.). Não havia altos ideais nem luta pela excelência em Issacar.
49.15 O Repouso Era Bom e a Terra Era Deliciosa. Assim, deleitosamente, Issacar continuaria vivendo sem tensões, desfrutando uma vida amena, embora laboriosa, sem nenhuma grande crise, sem ter de tomar decisões, sem ter de lutar. O quadro pintado pelo autor é o de um povo situado em uma rica região agrícola, de produção abundante, mas trabalhando para outros, vergado sob o trabalho, a fim de poder manter uma vida geralmente próspera e amena.
Essa tribo possuía o vale de Esdrelom (Jezreel), bem como os frutíferos montes de Gilboa, um lugar fértil, embora sujeito a invasões por parte de potências estrangeiras.
Tributos. Essa tribo teria de pagar um preço para poder manter sua vida confortável.
49.16 Dã. Dã haveria de tornar-se uma tribo auto-suficiente, dotada de autodeterminação, que julgaria causas entre seu povo. Há nisso um jogo de palavras, pois a palavra hebraica para Dã significa “julgamento”. Alguns estudiosos veem aqui alguma alusão a Sansão (Jz 13.2; 15.20), o qual julgou o povo de Israel por vinte anos. Nesse caso, Dã é aqui visto como quem julgaria a nação inteira, por algum tempo.
49.17 Embora possuidora da capacidade de autogovernar-se e até mesmo de julgar e prover justiça para toda a nação de Israel, Dã haveria de escolher métodos traiçoeiros, conforme faz uma serpente à beira do caminho, que, sem dó, pica as patas do pobre cavalo que por ali passa. Nos dias dos juízes, Dã foi a primeira tribo a aceitar a idolatria (Jz 18.30). Dã era uma tribo que atraiçoava a justiça, esquecida do Juiz de todos. Alguns eruditos pensam que a alusão aqui é à esperteza nas táticas de guerra, que Dã haveria de usar. Talvez haja uma referência a Cerastes, uma serpente difícil de divisar, por causa de seu colorido. Diodoro Sículo (Bibhothec. 1.3 par. 183) dizia que essa serpente tinha uma picada mortífera. Ver o capítulo dezoito do livro de Juízes. “Fica entendido que essa tribo faria a maior parte de suas conquistas mediante a astúcia e o estratagema, e não por seu valor próprio” (Adam Clarke, in ioc.). Ver também Jz 16.26-30 quanto a esse aspecto do caráter da tribo.
49.18 Esta excelente declaração consiste em uma ejaculação incorporada de súbito no texto (os críticos dizem que se trata de uma “glosa ejaculatória” posterior). Os intérpretes têm procurado encontrar sua conexão com os versículos anteriores e posteriores. Mas parece que temos aqui um suspiro de Jacó, uma espécie de gemido interior. Entre suas predições atinentes a seus filhos, algumas eram boas e outras eram más; algumas delas encorajavam, e outras desencorajavam. E então, de repente, seu espírito elevou-se ao Senhor, fonte originária de tudo quanto é bom (Tg 1.17). É como se ele tivesse dito: “Abençoa-nos, Senhor, em meio a todas essas vicissitudes da vida, a fim de que meu filho amado possa resistir a tudo por quanto terá de passar. Dá-nos a Tua salvação, a Tua graça, acima de todas essas dificuldades”. Jacó convocou a si mesmo e a seus filhos para reconhecerem sua dependência ao Senhor, que haveria de livrá-los de todos os seus apertos e de assegurar-lhes bem-estar. Alguns eruditos pensam aqui na esperança messiânica, que faria a história de Israel atingir seu ponto culminante, a redenção segundo os termos de Ana (Lc 2.38).
A víbora que pica subitamente (vs. 17) talvez tenha feito a mente de Jacó volver-se para o Senhor. Estamos cercados de males por toda parte, e carecemos da proteção e da orientação divina. Oh, Senhor, concede-nos tal graça! Satanás está sempre pronto para morder o calcanhar (Gn 3.15), mas o Senhor está sempre presente para esmagar a cabeça da serpente.
49.19 Gade. Uma única frase é dada a respeito dessa tribo: finalmente, haverá a vitória! Mas antes, seria acometida por guerrilheiros. Essa sequência de acontecimentos é importante para todos os homens, e tão comum na experiência humana. “Uma alusão aos ataques frequentes vindos do deserto, contra a região de Gileade, a leste do rio Jordão, onde se estabeleceu a tribo de Gade” (Cuthbert A. Simpson, in ioc.). Aqui também há um jogo de palavras, porquanto, no hebraico, Gade significa “fortuna”, “sorte”. Embora cercados por tropas hostis, os gaditas teriam a boa sorte de, finalmente, as vencerem. Ver Js 1.12-18; 4.12,13; 22.1-4, quanto às vicissitudes enfrentadas por essa tribo. Ver também Jz 10.7,8; cap. 11 e Jr 49.1.
Venceriam, Afinal. “Os gaditas, juntamente com os rubenitas e a meia-tribo de Manassés, venceram os hagarenos e os árabes… e habitaram nos territórios antes ocupados por aqueles. E assim foi, até o cativeiro das dez tribos do norte (I Cr 5.18 ss.)” (John Gill, in Ioc.).
49.20 Aser. Pão será abundante. . . delícias reais. Devemos pensar aqui em grande abundância, soprando para todos quantos tivessem necessidade, além de finos acepipes. O território que coube à tribo de Aser, ao norte do monte Carmelo, era um lugar extraordinariamente fértil. Ver Dt 33.24. Essas terras eram uma faixa costeira entre o monte Carmelo e a Fenícia, uma região que produzia muito alimento e delicias reais. O vale de Aser era chamado de ‘Vale da gordura”. Começava a cerca de oito quilômetros de Ptolemaida e chegava ao mar da Galiléia, em uma extensão de cerca de dezesseis quilômetros. Alimentos próprios para reis eram ali produzidos. O rei Salomão contava com intendentes que iam até ali em busca de provisões de boca (I Rs 4.16). E alguns estudiosos veem aqui uma referência histórica direta àquele fato, e não uma previsão sobre ele. Um dos sentidos possíveis do nome Aser é feliz ou abençoado, o que subentende sua posterior abundância de víveres.
49.21 Naftali. Gazela solta. Liberdade e fertilidade são as ideias destacadas aqui. “Palavras formosas”, de acordo com certas traduções, aparece como “gazelas formosas”. Talvez a referência seja ao terebinto, cujo topo é belo e verdejante (conforme diz a Septuaginta). Isso também poderia referir-se à expansão territorial (Dt 33.23). A mente solta alude à liberdade, vitalidade, energia, atividade desimpedida. Adam Clarke (in Ioc.) afirma que devemos pensar aqui em uma prole numerosa, por parte das famílias da tribo de Naftali. Dos quatro filhos de Naftali, Jazeel, Guni, Jezer e Silém (Gn 46.24), no decurso de duzentos e cinquenta anos, havia cinquenta e três mil e quatrocentos homens em idade e com capacidade de ir à guerra, o que era incomum no tocante à produção de descendentes. Ver Nm 1.42.
Palavras. Se temos aqui a correta compreensão do texto hebraico, isso poderia referir-se a uma inteligência lúcida, capaz de guiar seus exércitos ou realizar outros propósitos, pacíficos. Também poderia haver uma tendência às letras, por parte dos homens da tribo. Os intérpretes cristãos veem nessas “palavras formosas” a pregação eventual do evangelho, as Boas-Novas de Deus a todos os homens, que haveriam de reboar por toda a nação de Israel, resultante da realização do Messias, Jesus de Nazaré.
49.22 José. Embora ele não viesse a produzir nenhuma tribo com seu nome, contribuiria com duas tribos, através de seus filhos Efraim e Manassés. José (e seus descendentes) receberam longa e detalhada bênção, paralela à de Judá. Judá e José foram os únicos que receberam um pronunciamento mais detalhado por parte de Jacó, como vimos em ebdareiabranca.
Os críticos veem nessa bênção dada a José uma adição posterior ao poema original, cujo intuito visava a salientar a preeminência das tribos descendentes de seus filhos (o que se vê em Gn 48.20 ss., em uma pequena seção separada do resto, que serve de introdução às demais bênçãos). Os conservadores, porém, não veem motivos para pôr em dúvida o fluxo natural das bênçãos, nem a sua integridade original. A “casa de José” foi dividida nas tribos de Manassés e de Efraim, conforme se vê em Dt 33.13-17.
Ramo frutífero. Esse ramo dividiu-se em dois ramículos (Efraim e Manassés), o que produziu uma prosperidade incomum. José teve mais descendentes do que qualquer de seus outros irmãos. Ver Nm 1.32-34. Havia mais de setenta mil homens com idade e habilidades para ir à guerra. Está em foco a frutificação geral, material e espiritual, igualmente, e não mera posteridade. José era o filho preferido de Jacó, aquele que mais produziu, atingindo o lugar mais alto de honra e poder.
Junto à fonte. Haveria abundante suprimento de água, de tal modo que os ramos da tribo cresceriam bem, frutificando com abundância, trepando por cima do muro — tudo isso é símbolo de fertilidade, abundância e produção. Cf. Sl 1.3. Essa trepadeira, plantada à beira de águas, produziu seus frutos com abundância, e suas folhas não se ressecavam.
49.23 Os flecheiros lhe dão amargura. Adversários violentos e cheios de ódio tentaram exterminar a José. Entre esses estavam seus próprios irmãos, no passado; em seguida, a esposa de Potifar. E podemos supor que, como homem forte do Egito, ele tinha inimigos postados em lugares importantes. Mas, apesar de todos os esforços desses adversários, ele foi mantido seguro e em prosperidade. O Targum de Jonathan afirma que os magos do Egito o invejavam e lhe causaram dificuldades. Nos dias de seus filhos e suas tribos, no Egito, houve ataques da parte de inimigos, e eles tiveram de enfrentar tempos difíceis, quando os desastres tê-los-iam engolfado, não fora a proteção divina.
O autor sagrado compara José a um guerreiro, poderoso demais para os seus inimigos, embora o atacassem à distância, por serem flecheiros que lhe atiravam, com grande ódio, os seus dardos inflamados.
49.24 “A vitória na batalha foi experiência tida por Josué, Débora e Samuel, todos eles pertencentes à tribo de Efraim; e também por Gideão e Jefté, ambos da tribo de Manassés” (Allen P. Ross, in loc.).
Deus estava com José de modo muito especial, conforme a série de nomes divinos dados aqui indica claramente:
Poderoso de Jacó. Ver sobre o Deus Todo-poderoso, em Gn 17.1, o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó, o qual também era seu Deus, pleno de força, que entregou armas de guerra nos braços de José. No hebraico, temos aqui El Shaddai.
Pastor. O Senhor é imortalizado como o “Pastor” no Salmo 23 e no capítulo dez de João. José, como pastor, protegia suas ovelhas e provia o necessário para elas. Isso ele fazia com amor e com interesse constante. Essa era a sua profissão e a sua paixão. Assim também, Deus é o nosso Pastor: são enfatizados aqui suprimento abundante e proteção. Os eruditos cristãos veem em tudo isso uma referência messiânica. Jesus Cristo cuida de Seu rebanho, formado por judeus e gentios regenerados, os quais estão Nele.
Pedra de Israel. Temos aqui um emblema de poder e proteção, uma base inabalável em períodos atribulados. Ver Dt 32.4 ss. (especialmente os vss. 15,18,30); I Sm 2.2; II Sm 23.3; Sl 18.2; 89.26; I Co 10.4. “Rocha eterna, foi na cruz, que morreste Tu, Jesus.” Assim diz um antigo hino evangélico.
49.25 Pelo Deus de teu pai. Ver Gn 24.12 e 28.13 quanto ao Deus de Abraão; Gn 48.16, quanto ao Deus de Abraão e Isaque; e Êx 3.6,16, quanto ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó. O acúmulo de patriarcas, leais à aliança com o mesmo Deus, assinala o distintivo monoteismo que foi desenvolvido pelos hebreus. E esse Deus era o Deus de poder e provisão. A ideia de todo-poder, que figura no versículo anterior, é aqui repetida.
Bênçãos dos altos céus. Tanto as bênçãos temporais, como a chuva, o orvalho, o sol, condições atmosféricas favoráveis para a fertilização do solo, quanto as bênçãos espirituais, como orientação, proteção e favor divino, que fazem o crente cumprir com êxito a sua missão neste mundo.
Bênçãos das profundezas. Ou seja, do oceano subterrâneo (Gn 1.2,6), que os antigos consideravam uma fonte de fertilidade. Ademais, das profundezas brotavam os mananciais, as fontes de águas, que manariam do oceano subterrâneo. Alguns eruditos incluem aqui a ideia das minas e dos minerais, produtos que podem ser extraídos do subsolo e são fontes de prosperidade material.
Bênçãos dos seios e da madre. Está em pauta a fertilidade humana. As tribos de Efraim e Manassés tornaram-se muito numerosas e poderosas (ver Nm 1.32-34). O número dos descendentes de José era maior que o número de descendentes de qualquer outro de seus irmãos. “Efraim e Manassés se haviam multiplicado tanto nos dias de Josué, que um único e comum território não teria sido suficiente para eles. Ver sobre a queixa deles, em Josué 17.14” (Adam Clarke, in loc.).
49.26 Jacó havia prosperado muito mais que seu pai, Isaque, e mesmo mais que o seu avô, Abraão. Suas riquezas perdurariam para sempre, como duradouros são os montes eternos, que não se desgastam com o passar dos séculos. Sua posteridade perduraria por eras incontáveis, futuro afora, ultrapassando os céus e a terra, que desapareceriam em decadência. José haveria de herdar essa herança eterna e riquíssima. Quando falamos nas realidades espirituais, então podemos tomar essas palavras em sentido literal, e não apenas poético.
Essas bênçãos extraordinárias repousariam sobre a cabeça de José como se fossem uma coroa, porque havia sido mandado ao Egito, tornando-se a segunda autoridade dali, recebendo domínio sobre os seus irmãos. E tal como fora distinguido deles fisicamente, em glória terrestre, assim também, na bênção divina, continuaria a distinguir-se deles.
“A bênção ancestral ultrapassava até mesmo a majestade e a fertilidade das colinas de Efraim” (Oxford Annotated Bible, in loc.).
No Targum de Jerusalém, a palavra montes é interpretada como se indicasse Abraão e Isaque, ao passo que colinas seria uma alusão a Sara, Rebeca, Raquel e Lia. As bênçãos dadas a José, pois, seriam superiores às bênçãos que haviam sido dadas àqueles notáveis santos do passado.
José como Tipo de Cristo. Essa palavra de exaltação, na verdade, foi endereçada à pessoa de Cristo, aqui simbolizado por José.
49.27 Benjamim. Benjamim seria um guerreiro incansável, arrasador e irresistível. Ele foi “elogiado em face de seus hábitos predatórios e seu cometimento na guerra. A diferença entre essa caracterização (que encontra apoio nos capítulos dezenove a vinte e um de Juízes), e o conceito de Benjamim, na história de José, pode ser percebida. Na última linha parece haver uma alusão à coragem de Saul (cf. II Sm 1.25)” (Cuthbert A. Simpson, in loc.). Consideremos os cruéis benjamitas de Juízes 20, bem como os feitos de Saul, um benjamita, em I Sm 9.1,2; 19.10 e 22.17. De certa feita, contando somente com vinte e seis mil homens, ele derrotou um exército inimigo de quatrocentos mil homens (ver Jz 20.15-25). Alguns dos pais da Igreja aplicaram essa profecia, indiretamente, ao apóstolo Paulo (um benjamita), o qual, antes de converter-se, participou da matança de pessoas inocentes. Mas depois, em um sentido espiritual, ele continuou sendo um guerreiro, em favor do bem, e, quase sozinho, levantou a Igreja cristã no mundo gentílico. Alguns eruditos veem Benjamim como um tipo de Cristo, o qual, como um guerreiro, esmaga os inimigos e os poderes das trevas (ver Cl 2.15 e Ap 19.11,15).
49.28 As doze tribos de Israel. Doze é o nome governamental. Na verdade, porém, as tribos eram treze, se incluirmos Levi. Mas essa tribo ficou destituída de terras e tornou-se na classe sacerdotal em Israel. Ver Nm 1.47 ss. Além disso, apesar de José ter sido um dos patriarcas, não houve uma tribo com seu nome. Antes, ele gerou Efraim e Manassés, os quais se tornaram chefes de duas tribos. Isso posto, o número de descendentes de José foi maior que o número de descendentes de qualquer de seus irmãos (Nm 1.32-34). Assim, temos onze filhos de Jacó como tribos; tirando Levi, ficam dez tribos; adicionando Efraim e Manassés, ficam doze. Mas Jacó abençoou a catorze, porque, embora não tivesse uma tribo com seu nome, no sentido estrito, José recebeu a bênção maior e mais longa; e Levi, embora mais tarde se tivesse tornado a classe sacerdotal, não sendo oficialmente considerado uma tribo, também foi abençoado.
No livro de Juízes, vemos as tribos essencialmente autônomas, como se fossem estados de uma frouxa federação ou comunidade. Sob Davi, as tribos foram unificadas, uma situação que prosseguiu até a divisão da nação em duas, nos dias de Reoboão, neto de Davi: o reino do norte (dez das tribos), chamado Israel; e o reino do sul (duas das tribos), chamado Judá. Somente esse reino do sul se tem projetado até os tempos modernos. O moderno estado de Israel consiste em um núcleo formado pelas tribos de Judá e Benjamim, com um elemento regular de Levi, além de salpicos de todas as outras tribos.
A Morte de Jacó (49.29-33)
A longa e produtiva vida desse patriarca chegou ao fim. Ele pôde ver todos os seus filhos bem criados, bem-educados e ocupados em suas respectivas missões. Oh, Senhor, concede-nos tal graça! Foram-lhe conferidas longa vida e muita atividade, até o fim. Foi-lhe concedido o privilégio de ver sua própria missão efetuada, levada à plena fruição. Assim sendo, ao mesmo tempo em que ia abençoando outros, foi extraordinariamente abençoado ele mesmo. Os oráculos que ele apresentou, à semelhança daqueles de Noé, olhavam profeticamente para o futuro destino de seus filhos e da nação que estavam produzindo. Jacó foi capaz de ver a mão do Senhor atuando em tudo. Jacó foi homem acostumado a ver a providência de Deus.
Na caverna. Em Macpela (vs. 30). Efrom. O heteu. Na história profana, os heteus são conhecidos como hititas. Ver a história da compra dessa caverna (e do campo em torno dela), no capítulo vinte e três de Gênesis.
Um dos instintos da idade avançada é a pessoa voltar às suas raízes. Quando a morte se aproxima, é um instinto humano comum querer ser sepultado na terra do nascimento. “É como se a solidão da morte fosse, até certo ponto, vencida, e como se o laço com o passado formativo fosse refeito. Isso empresta um aspecto sacrossanto ao lugar de sepultamento de uma pessoa” (Walter Russell Bowie, in loc.).
Eu me reúno ao meu povo. Ver em Gn 25.8,17. Ver também Gn 35.29, bem como o vs. 33 deste capítulo. Nisso pode haver um indício da crença na vida pós-túmulo, uma doutrina que, na época, ainda não fora desenvolvida na teologia dos hebreus, e só começou a ter expressão clara nos Salmos e nos Profetas.
Com meus pais. O vs. 31 nos mostra quais pessoas foram sepultadas na caverna de Macpela.
49.30,31 Campo de Macpela. Curiosamente, as Escrituras não registram a morte de Rebeca. Supomos que, pelo tempo em que Jacó voltou do território de Labão, ela já tinha morrido. Estes versículos revelam-nos, porém, que ela também estava sepultada na caverna da família. As outras pessoas ali sepultadas foram Abraão, Sara, Isaque e Lia. Mas José, que morreu e foi embalsamado no Egito, foi sepultado em Siquém, tendo sido os seus ossos transportados por Moisés para fora do Egito. Ver Js 24.32.
Sepultamentos em Macpela. Sara (Gn 23.19); Abraão (25.8,9); Isaque (35.27- 29); Rebeca (49.31); Lia (49.31) e Jacó (50.13).
49.32 O terreno foi comprado para tornar-se sepulcro da família. Curiosamente, os árabes é que possuem atualmente o local, com sua caverna.
49.33 Terminara a Missão de Jacó. Jacó terminou de proferir suas bênçãos e suas ordens. Tudo estava bem. Não havia do que se lamentar, e coisa alguma precisava ainda ser feita.
E expirou. Provavelmente, uma tradução correta. A King James Version fala aqui em “fantasma”, mas a Revised Standard Version também fala em “expirar”, Este versículo não indica necessariamente que o espírito imaterial de Jacó abandonou o seu corpo, embora alguns entendam a questão por esse prisma. Cf. Gn 25.8,17; 35.29. No caso da morte de Raquel (Gn 35.18), “saiu-lhe a alma” e alguns eruditos também pensam que isso indica uma alma imaterial. No hebraico, a palavra alma pode indicar apenas a respiração ou o princípio vital que anima o corpo vivo. Todavia, com a passagem do tempo, a palavra hebraica nephesh veio a indicar a alma imortal e imaterial, que pode viver fora do corpo físico. Embora possa haver laivos de crença na imortalidade, na antiga teologia dos hebreus (na época dos patriarcas), naquele tempo a doutrina ainda não se tinha desenvolvido o bastante. Tal desenvolvimento só ocorreu mais tarde.
Foi reunido ao seu povo. Ver as notas sobre essa expressão, no vs. 29 deste capítulo.
Bibliografia R. N. Champlin