Lição 2 – A importância do ensino cristão

ensino cristão

Texto Áureo

“Estes, pois, são os mandamen­tos, os estatutos e os juízos que mandou o Senhor, vosso Deus, para se vos ensinar, para que os fizésseis na terra a que passais a possuir”. Dt 6.1

Verdade Aplicada

A educação cristã deve promo­ver entusiasmo, ânimo e vida cristã em abundância.

Objetivos da Lição

  • Mostrar que não existe genu­íno cristianismo senão através do ensino prático de Jesus Cristo;
  • Indicar quais as esferas em que o ensino cristão deve ser aplicado;
  • Revelar a necessidade de desenvolvermos um caráter, à semelhança de Jesus mediante o ensino.

Textos de Referência

Dt 6.6        E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração;

Dt 6.7        e as intimarás a teus filhos e delas falarás assen­tado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te.

Dt 6.8        Também as atarás por sinal na tua mão, e te serão por testeiras entre os teus olhos.

Dt 6.9        E as escreverás nos umbrais de tua casa e nas tuas portas.

Javé é nosso Deus, Javé é Único (6:4-9)

Este grande livro prossegue agora para dar expressão ao que era o coração da confissão israelita, ou seja, que Javé não era um panteão de deuses, mas Único. Devia, portanto, ser o objeto único da fé e obediência de Israel. A nação não deveria esquecer Javé nem dividir sua lealdade entre outros deuses nos dias de prosperidade. Além do mais, deveria assegurar a continuidade de tal lealdade e da fé revelada na aliança através do ensino diligente às crianças.

4. Ouve Israel. Israel é convidado a responder a Javé com a mesma plenitude de amor demonstrada por Javé em favor de Seu povo. No Novo Testamento o versículo 5 é apresentado por Jesus como o primeiro e grande mandamento (Mt 22: 36-38. Cf. Mc 12: 29-34; Lc 10: 27, 28). Esta breve passagem (4-9) tem sido conhecida pelos judeus durante sécu­los como o Shema (sema’, ouve em hebraico) e é recitada junto com Deuteronômio 11: 13-21 e Números 15: 37-41 como oração diária. A refe­rência à colocação das leis de Deus como frontal entre os olhos é comen­tada em 6: 8. A prescrição do versículo 4 tem sido considerada como uma maneira positiva de enunciar as ordens negativas dos dois primeiros man­damentos do Decálogo (5: 7-10). Esta confissão central da fé israelita consiste de apenas quatro palavras, Javé, nosso Deus, Javé, Um (A doutrina cristã da Trindade não contradiz este texto, embora envolva uma compreensão diferente do conceito de trindade na Pessoa Divina.). A ex­pressão tem sido entendida de várias maneiras. Traduções possíveis são: Javé nosso Deus, Javé é um”, “Javé é nosso Deus, Javé é um”, “Javé é nosso Deus, Javé somente”. Seja qual for a tradução escolhida, o signi­ficado essencial é claro. Javé deveria ser o único objeto da adoração, lealdade e amor de Israel. A palavra “um” ou “Único” implica em monoteísmo, mesmo que não o afirme com todas as sutilezas da formulação teoló­gica. O monoteísmo bíblico tinha uma expressão prática e existencial que levaria ao abandono de pontos de vista como a monolatria. Mesmo que alguém em Israel admitisse a existência de outros deuses, a afirmação de que somente Javé era Soberano e único objeto da obediência de Israel fazia soar o toque fúnebre para quaisquer posições inferiores ao monoteísmo.

5. Amarás a Javé teu Deus. A obediência de Israel não deveria sur­gir de um legalismo estéril baseado na necessidade e no dever. Deveria surgir de um relacionamento baseado em amor. É interessante notar que em alguns tratados de suserania uma palavra semelhante é usada para expressar o relacionamento entre o vassalo e seu suserano. O equivalente hebraico deste uso da palavra “amar” ocorre em 1 Reis 5: 1, onde a SBB traduz “Hiram sempre fora amigo de Davi”. Mesmo em tratados se­culares sentia-se a necessidade de um relacionamento mais profundo que o meramente legal. O termo bíblico “amar”, entretanto, tem uma cono­tação muito mais profunda. Oséias usa o verbo para expressar a afeição de Javé por Israel, fazendo uso de poderosas metáforas, extraídas da vi­da doméstica, do relacionamento entre marido e esposa (Os 3: 1) e do relacionamento entre pai e filho (Os 11:1). A extensão do amor do ho­mem a Deus deveria ser total. Israel deveria amar a Deus com todo o seu ser. A expressão de todo o teu coração, de toda a tua alma e de toda a tua força é uma das favoritas em Deuteronômio (4: 29; 10: 12; 11: 13; 13: 3; 26: 16; 30: 2, 6, 10), e nos oferece uma percepção parcial da anti­ga psicologia hebraica. O coração era considerado a sede da mente e da vontade bem como de uma vasta gama de emoções. O termo alma é de difícil definição, mas parece ser referir à fonte de vida e vitalidade, ou mesmo do próprio “ser”. Em Gênesis 2: 7 e 19 homens e animais são apresentados como “seres” viventes. * Os dois termos, coração e alma en­tre si indicam que o homem deve amar a Deus sem qualquer reserva em sua devoção. Para dar mais força à ordem, uma terceira expressão é acres­centada, de toda a tua força.

6. A necessidade de ter a lei de Deus no teu coração ao invés de em simples tábuas de pedra é aqui apresentada (çf 11: 18; Jr 31: 33). A comparação com o Novo Testamento é interessante. O teste do amor de um indivíduo ao Senhor Jesus Cristo é a observância de Seus mandamen­tos; “aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama” (Jo 14: 21; cf 1 Jo 5: 2). Tais passagens mostram que a obediência ao mandamento é um subproduto do amor. À objeção de que o amor não pode ser ordenado (5) mas tem que ser espontâneo, deve-se dar a res­posta de que o amor flui da gratidão e da devoção. Amor é uma expressão de lealdade. O homem que ama alegremente ama com todo o seu ser. A presente injunção foi feita para deixar claro a Israel qual era o caráter de seu relacionamento com Javé, seu Senhor. Qualquer coisa menos que ab­soluta devoção e lealdade levaria a uma lealdade dividida, que teria sido impossível. A ordem do amor não pode ser interpretada como prova de que o amor seja menos que espontâneo, mas como prova de que apenas um amor que não é dividido pode ser chamado amor em seu sentido mais verdadeiro.

7-9. Quando um homem ama a Deus de maneira total, obedece alegremente às Suas palavras que estão gravadas no coração. A exigência do amor a Deus implica em todas as outras, e a disposição de amar a Deus abrange tanto a disposição de obedecer os Seus mandamentos quanto a disposição de comunicar tais mandamentos às gerações seguintes, de mo­do a preservar uma atitude de amor e obediência entre o povo de Deus em todas as épocas (7a, 20ss.). O livro de Deuteronômio dá importância es­pecial à tarefa de ensinar a família (4: 9b; 6: 20-25; 11: 19). As exigên­cias da aliança de Javé devem ser o assunto da conversa a todo o tempo, em casa, no caminho, de noite e de dia. Israel deve ensiná-las diligente­mente, falar delas constantemente, atá-las como sinal em várias partes do corpo, e escrevê-las. O amor de Deus e as exigências de Sua aliança deve­riam ser o interesse central e absorvente de toda a vida do homem.

8,9. O que fora originariamente dado como uma metáfora tor­nou-se, mais tarde, para os judeus, uma ordem literal. Esta passagem, juntamente com Deuteronômio 11: 13-21 e Êxodo 13: 1-10, 11-16, era escri­ta em pequenos rolos colocados em pequenos invólucros de couro atados à testa e ao braço esquerdo quando o Shema era recitado. A origem dos filactérios (cf. Mt 23: 5) se encontra neste literalismo. Os filactérios eram usados por todos os judeus homens durante o período da ora­ção matutina, exceto aos sábados e dias de festa, que já eram sinais em si mesmos. Posteriormente, outra prática se desenvolveu, a de colocar estas quatro passagens em pequenos recipientes que eram afixados no portal de entrada da casa (a mezüzâ). Cópias antigas de tais documentos foram encontradas nas cavernas de Qumran e em outros lugares. É óbvio que tais práticas devem ter tido significado profundo para algumas pessoas. As breves passagens da Escritura eram “sinais” que representavam todo o conteúdo da lei, que deveria ser ensinado e observado. Quando, porém a prática se reduziu a mero legalismo, o espírito da antiga ordem foi destruí­do. O que movia homens à obediência era o amor de Deus e a lembran­ça de Suas misericórdias passadas. Tais sinais já eram suficientes em si mesmos, sem quaisquer lembretes físicos. A recordação dos atos salva­dores de Deus e a declaração das exigências de Sua aliança seriam suficien­tes para manter vivas a fé e a lealdade.

A importância de recordar (6:10-25).

Na fé bíblica a recordação das misericórdias e atos de libertação passados efetuados por Deus é fundamental. Na hora da prosperidade, ou em ocasiões em que tudo vai bem, os homens esquecem a Deus e podem até mesmo abandonar sua lealdade a Javé. Dois aspectos da importância do recordar são agora levantados. Em primeiro lugar há uma declaração negativa: os israelitas são exortados a não esquecer (10-19). Em segun­do lugar, Israel é desafiado a transmitir a seus filhos os grandes fatos da libertação do Egito.

O perigo do esquecimento (6: 10-19).

10-13. Em várias passa­gens de Deuteronômio enfatiza-se o fato de que uma civilização agrária estabelecida aguardava Israel quando de sua chegada à terra prometida. Tudo aquilo seria seu sem qualquer esforço de sua parte. Numa terra de pouca irrigação natural, com uma longa estação seca, as reservas de água eram essenciais à vida. Israel, entretanto, já encontraria cisternas cavadas, vinhas e olivais florescendo, cidades e casas construídas, tudo esperando apenas que os israelitas viessem tomar posse (cf 8:7-11; 11: 13-17; 26: 10; 32: 14). Devotar-se a tais tesouros terrenos e esquecer que eram a dádiva do amor de Deus e o cumprimento de Sua promessa aos patriarcas (10) era uma forte tentação para os israelitas. Por isso, Israel não deveria esquecer Javé e seus grandes atos de livramento que haviam resgatado seus antepassados da escravidão do Egito (12). Antes, suas vidas deveriam ser caracterizadas por um santo temor ou reverên­cia — que é a raiz da obediência e a base de atitudes corretas na vida, por um serviço leal surgido dessa reverência, e por fazer de Javé o penhor de sua integridade e honestidade em todas as suas atividades, fazendo votos somente em Seu nome. A história posterior de Israel é cheia de incidentes em que o povo deixou de dar ouvidos a esta admoestação. Por exemplo, durante os prósperos anos do oitavo século AC, Deus era honra­do apenas por cerimônias exteriores; as questões mais importantes de Sua lei eram esquecidas (Am 5:4, 5, 14; 6:1, 4-6; Os 2:5, 8; Is 1:4, 21-23). Numerosos exemplos poderiam ainda ser colhidos na história do povo de Israel e na história da Igreja cristã. Em nossos dias, o nominalismo da igreja na afluente sociedade ocidental dá testemunho eloquente do fato de que em seus dias de prosperidade a Igreja se esquece de Deus.

14. A tragédia do esquecimento é que Israel viria a se voltar para os deuses das nações vizinhas que, na verdade, nem deuses eram. Eram divindades da natureza e da fertilidade, cujas exigências morais normais nem de longe se podiam comparar com as severas exigências éticas impos­tas por Javé.

15. Negligenciar deliberadamente a Javé era equivalente a um desa­fio ao grande e soberano Senhor de toda a vida. No terreno secular um vassalo rebelde era castigado por seu suserano. No terreno em que Javé reinava, “maldições” sobrevinham àquele que quebrava a aliança. Javé, que era um Deus zeloso (5: 9), visitaria Seu povo em juízo. A presen­ça de Javé entre seu povo era um estímulo à boa conduta e oferecia um forte incentivo a que Israel andasse em Seus caminhos.

16. O incidente em Massá (Êx 17: 1-7), no qual Israel tentou a Deus é agora recordado como outra advertência. Tentar a Deus é impor condições a Ele e fazer de Sua resposta à exigência do povo na hora da crise a condição para que Israel continuasse a segui-lo. No deserto, quando o povo precisou de água, os israelitas propuseram a Moisés que o apareci­mento de água fosse um teste para determinar se Javé estava ou não em seu meio (Êx 17: 7). Tal ato, entretanto, é uma impertinência e é oposto à fé, pois recusa os sinais oferecidos por Deus e propõe em seu lugar sinais que sejam aceitáveis aos homens. Ao duvidarem da soberania de Deus na hora da crise ou da necessidade, os israelitas procuraram tomar a inicia­tiva e obrigar Deus a dar provas de Si próprio diante deles por meio de feitos espetaculares que eles mesmos houvessem proposto (cf. 1: 19- 46). Em seus dias, Jesus recusou-Se a oferecer sinais aos escribas e fariseus (Mt 12:38, 39; 16: 1-4; Mc 8: 11, 12; Lc 11: 16, 29, 30; cf 1 Co 1:22).

17-19. Mais uma vez Israel é exortado a guardar diligentemente as estipulações da aliança, e a fazer aquilo que é reto aos olhos de Javé (17, 18a). Mais uma vez as bênçãos decorrentes da obediência são menciona­das; prosperidade, posse da terra e expulsão de todos os seus inimigos (18b, 19; cf Êx 23:27-32).

O ensino da fé da aliança (6:20-25).

20. Mais cedo ou mais tarde, os filhos fatalmente iriam perguntar por que seus pais levavam um tipo de vida diferente daquela vivida pelas nações vizinhas. Prevendo o futuro, Moisés exortou o povo a ter sua resposta pronta quando seus filhos per­guntassem por que razão observavam as estipulações da aliança (testemu­nhos), estatutos e decisões judiciais (juízos) que Javé dera a Israel.

21-25. A resposta apropriada à pergunta dos filhos seria recitar a narrativa da atividade redentora de Deus na libertação dos antepassados da escravidão no Egito. A crença de Israel em Deus era expressa, assim, não em termos de uma formulação abstrata, mas em termos da atividade dinâmica de Deus. Mesmo as crianças poderiam entender aquela história, pois seu conteúdo era simples: escravidão no Egito (21a), os atos mila­grosos de Deus contra Faraó e o Egito, pelos quais Israel foi liberto (21b, 22), a direção cuidadosa e segura de Deus desde o Egito até à terra prome­tida (23) e finalmente a chegada à terra que Javé jurara dar a seus pais. Este recitativo tem íntima semelhança com outras confissões de fé no Ve­lho Testamento (26: 5-9; Js 24: 2-13) (Este recitativo tem sido chamado por Gerhard von Rad e outros de “Credo Cultual” e tem sido usado para argumentar que o evento do Sinai, que não aparece em Dt 26: 5-9, não era parte da mais primitiva fé israelita. O fato de um elemento de um credo ser omitido, contudo, não significa que não tenha existido. Outra forma li­terária bem conhecida que aparece especialmente em Êxodo liga o evento do êxodo com o evento do Sinai do mesmo modo pelo qual os tratados de suserania ligam o contexto histórico do tratado com as suas estipulações. A verdade completa sobre a crença de Israel só é descoberta por meio da combinação de vários credos diferentes.). Sem dúvida os frequentes recitativos dessa narrativa deram origem a uma formulação litúrgica. Foi à luz de tais atos de livramento que Javé pôde convidar Israel a entrar em aliança consigo e a impor sobre a nação, para seu próprio bem, as obrigações da aliança que Israel presentemente observava e que o distinguia de seus vizi­nhos. Tudo isto seria objeto de inquirição por sucessivas gerações de fi­lhos israelitas. Os mandamentos deveriam ser não um peso a ser carrega­do mas a provisão graciosa de um guia para uma vida feliz, feita por um Soberano benevolente. Assim Javé preservaria a existência de Israel. A obediência à lei divina seria por justiça (sedãqâ) para Israel. Esse con­ceito é de difícil definição. Em algumas passagens do Velho Testamento denota uma norma a ser adotada numa área qualquer. No plural indica “atos salvadores” (Jz 5: 11; 1 Sm 12: 7; Sl 103: 6; Mq 6: 5, etc.). Em ou­tras passagens sedãqâ se refere a uma atitude certa, ou um relacionamen­to certo, para com Javé. Quando Abraão creu em Deus, adotou uma atitude correta que o colocou num relacionamento correto com Deus. No contexto que agora observamos o padrão proposto é conformidade à aliança divina, que resultaria no desfrute das bênçãos da aliança. Tal tipo de raciocínio era tacitamente aceito no mundo secular em relação aos tratados da época, quando vassalos fiéis e leais desfrutavam do favor de seus suseranos. Comparar Salmo 24: 3-5, onde o homem que guarda a lei de Deus recebe bênção do Senhor e a vindicação ou “justiça” (fdàqâ) de seu Deus salvador (Deus da sua salvação). Alternativamente, o termo pode denotar “libertação” ou “salvação”, co­mo em várias passagens do Velho Testamento (Is 41: 10; 46: 13; 51: 1, 5, etc.).

 

Bibliografia J. A. Thompson

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