INTRODUÇÃO
A “missão educadora” da Igreja, o discipulado, é, ao lado da evangelização, um dos dois pilares fundamentais da Igreja. São duas tarefas indissociáveis, impostas por ordem de nosso Senhor Jesus e que está exarado na passagem de Mateus 28:19,20. O Senhor Jesus disse aos seus discípulos que eles deveriam ir e “ensinar todas as nações”, expressão esta que, em algumas versões, é traduzida por “fazei discípulos”.
A Igreja deve pregar o Evangelho, mas é preciso, também, que ela “ensine às nações”, “faça discípulos”, cuidado este que era patente nos tempos apostólicos, a ponto de os apóstolos terem chamado para si esta tarefa, considerando, inclusive, não ser razoável deixar de se dedicar à oração e ao ensino da Palavra (At.6:2,4), sem falar no zelo de Barnabé com relação à primeira igreja gentílica, a de Antioquia (At.11:25,26) e dos conselhos que Paulo dá a Timóteo no sentido de jamais se descuidar com o ensino junto aos crentes (I Tm.4:12-16).
Quando alguém se converte a Cristo e nasce de novo, é um recém-nascido, é uma pessoa que não tem conhecimento algum a respeito das coisas de Deus, a respeito da vida com o Senhor Jesus. Embora tenha recebido uma nova natureza, embora seu espírito tenha se ligado novamente a Deus, ante a remoção dos pecados, é um ser humano e, como tal, precisa ser ensinado a respeito do Senhor, ensino este que deve ser proporcionado pela Igreja, que é a quem o Senhor cometeu esta tarefa sobre a face da Terra. Jesus é quem salva, mas é a Igreja quem deve “fazer discípulos”, quem deve “ensinar”.
I. A TAREFA DA IGREJA NO DISCIPULADO
1. A visão da igreja quanto ao discipulado. Criada para ser a agência do reino de Deus aqui na Terra, a Igreja, ao mesmo tempo em que, para os que se encontram fora do reino de Deus, precisa ser a anunciadora da salvação, pregando o Evangelho, deve, para os que já viram e entraram no reino de Deus (Jo.3:3,5), ser a instruidora, aquela que ensina a Palavra de Deus aos que se converteram, a fim de que possam eles crescer espiritualmente e alcançar a unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:13).
A evangelização (o ato de semear o evangelho) e o discipulado (integração do novo crente) requerem tempo, pelo fato de que ambas as atividades envolvem um processo contínuo e, não apenas, um ato isolado. Além disso, demandam muita oração, esforço, paciência, fé e perseverança para alcançar os resultados desejados.
A maturidade espiritual do cristão não ocorre de modo rápido e instantâneo, mas progressivamente em Cristo (Cl 1.28, 29). Para que conservemos em nossas igrejas os novos convertidos em Cristo, precisamos trabalhar com amor, dedicação e objetividade. Muito da imaturidade espiritual dos membros da igreja local é resultado da ignorância destes em relação às doutrinas básicas da Bíblia. É o que se denota nos destinatários da carta aos Hebreus -“Porque, devendo já ser mestres em razão do tempo, ainda necessitais de que se vos torne a ensinar os princípios elementares dos oráculos de Deus, e vos haveis feito tais que precisais de leite, e não de alimento sólido. Ora, qualquer que se alimenta de leite é inexperiente na palavra da justiça, pois é criança; mas o alimento sólido é para os adultos, os quais têm, pela prática, as faculdades exercitadas para discernir tanto o bem como o mal”(Hb 5.12-14).
2. O quadriforme método de Jesus. Mateus 28:19,20 – “Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado; e eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos”. Observe que neste texto é apresentado o método quadriforme, ordenado por Jesus: indo, fazendo discípulo, batizando e ensinando. O texto sagrado destaca os verbos em sua forma imperativa. Nota-se que não é uma recomendação ou um conselho, mas uma ordem do nosso Senhor. Assim se destaca o método quadriforme imperativo:
a) Ide. No sentido de mover-se ao encontro das pessoas, a fim de comunicar a mensagem salvífica do evangelho. Esta determinação verbal está combinada com a do texto de Marcos 16:15: “…Ide por todo o mundo, e pregai o evangelho a toda criatura”.
A ordem do Senhor é que devemos ir por todo o mundo. Ir ao encontro do mundo, ir ao encontro dos pecadores, levar-lhes a mensagem da salvação em Cristo Jesus. O homem não tem condições de salvar-se a si próprio e, mais, o deus deste século lhe cegou o entendimento para que não tenha condições de ver a luz do evangelho da glória de Cristo(II Co.4:4). Portanto, é tarefa da Igreja ir ao encontro de judeus e de gentios para lhes anunciar as boas-novas da salvação.
A ordem do Senhor é para que se pregue a toda criatura, mesmo aquela que, pela sua conduta, pela sua forma de proceder, é alvo de todo ódio, de toda repugnância, de todo o desprezo da sociedade e do mundo. Deve-se pregar a toda a criatura, mesmo que seja a pior pessoa que exista sobre a face da Terra. Não cabe à Igreja julgar os homens e dizer a quem deve, ou não, ser pregada a Palavra. O Senhor foi enfático em dizer que toda criatura deve ouvir a mensagem do Evangelho, seja esta pessoa quem for. É interessante observarmos que, nos dias do profeta Jonas, o Senhor mandou que fosse feita a pregação a todos os ninivitas, sem exceção alguma, ainda que eles fossem os homens mais cruéis que existiam no mundo naquele tempo. Jonas teve de pregar para todos, sem exceção, ainda que muitos, pela sua extrema crueldade e maldade, fossem, na verdade, verdadeiras “bestas-feras”, verdadeiros “animais” (Jn.3:8), que, mesmo sendo o que eram, foram alcançados pela misericórdia divina. Observe o exemplo de Jesus – Ele ia ao encontro dos publicanos e das meretrizes, considerados a escória da sociedade de seu tempo, e nós, o que estamos a fazer?
b) Fazer discípulos. Este imperativo tem o sentido de “estar com” as pessoas e torná-las seguidoras de Cristo; a tarefa exige que o discipulador acompanhe e conviva com o aprendiz.
c) Batizar. É o ato físico que confirma o novo discípulo pela sua confissão pública de que Jesus Cristo é o seu Salvador e Senhor.
O batismo nas águas é uma ordem a ser cumprida por quem se arrependeu dos seus pecados – “Pedro então lhes respondeu: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para remissão de vossos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo”(At.2:38. Deste modo, não podem ser batizadas crianças recém-nascidas, vez que não têm o discernimento do que é, ou não, pecado e, portanto, não podem se arrepender dos seus pecados, como também não podem ser batizadas pessoas que não tenham demonstrado que, efetivamente, creram no Evangelho e nasceram de novo. Só é lícito o batismo daquele que realmente creu de todo o seu coração – “E indo eles caminhando, chegaram a um lugar onde havia água, e disse o eunuco:Eis aqui água; que impede que eu seja batizado?; E disse Felipe: é lícito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o Filho de Deus”. (At.8:36,37).
d) Ensinar as doutrinas da Bíblia. Este imperativo denota o objetivo de aperfeiçoar e preparar o discípulo para a sua jornada na vida cristã. Ensinar aos homens e ensinar-lhes a Palavra de Deus foi o que o Senhor Jesus ordenou aos seus discípulos, quando lhes disse: “… ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado..”(Mt 28:20).
O pastor Oséas Macedo, na obra Manual de Missões (CPAD, 1997:13), afirma que a tarefa de salvar o mundo não pode ser desassociada do enviar crentes para alcançá-lo. O processo de salvar o mundo começa com enviar. Enviar pessoas capacitadas por Deus para pregar, a fim de que todos possam ouvir, crer e invocar o nome de Jesus para serem salvos. No entanto, a tarefa da igreja não estará completa enquanto o novo crente não for integrado à vida da igreja e tornar-se capaz de ganhar outros para Cristo.
II. DISCIPULADO E DISCÍPULO
1. Que é discipulado? – O discipulado nada mais é que ensinar a Palavra de Deus aos novos convertidos, àqueles que aceitaram a Cristo como seu único e suficiente Senhor e Salvador de suas vidas e fazer com que eles, que foram escolhidos por Deus, possam viver de tal maneira que dêem o fruto do Espírito, ou seja, tenham um novo caráter, uma nova maneira de viver que leve as pessoas a glorificar ao nosso Pai que está nos céus, ou seja, vivam de tal maneira que suas ações os transformem em testemunhas de Jesus, em prova de que Jesus salva e, por isso, outras pessoas reconheçam o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, ou seja, o Evangelho (Rm.1:16).
Quando uma pessoa nasce de novo, encontra-se na mesma posição de Lázaro ressuscitado. Jesus, depois de quatro dias, quando o corpo de Lázaro já estava em decomposição, mostrou o seu poder sobre a morte, fazendo-o ressurgir dos mortos. Milagrosamente, Lázaro saiu da sepultura com vida. Entretanto, é interessante notar que Lázaro foi para fora da sepultura, mas se encontrava ainda todo enfaixado, conforme os costumes judaicos de preparação do cadáver. Jesus não determinou que Lázaro fosse daquele jeito para casa nem tampouco se incumbiu de desligar o ex-defunto. Mandou que aquelas pessoas que estavam ali vendo o milagre tratassem de tirar as faixas de Lázaro, de modo que ele próprio (Lázaro) fosse para a sua casa (Jo.11:44). Assim ocorre com o novo convertido: só Jesus poderia trazê-lo à vida, ou seja, salvá-lo; mas cabe a nós que estamos com Jesus neste mundo tomar as providências necessárias para que o novo crente se desligue de tudo aquilo que estava relacionado com a vida sem Cristo, ou seja, com a morte espiritual, para que ele, individualmente, siga em direção à sua casa, onde já o aguarda o Salvador.
Foi exatamente isto que Barnabé e Paulo fizeram na igreja de Antioquia, a primeira igreja formada por gentios na história da Cristandade. Barnabé, ao verificar que havia conversão autêntica, tratou de buscar a Paulo e, durante todo um ano, houve o discipulado, ou seja, o ensino da Palavra àqueles novos crentes. O resultado daquele ano de ensino não poderia ser melhor: os novos convertidos passaram a ter uma vida muito semelhante à de Jesus, passaram a ser diferentes dos demais moradores de Antioquia, passaram a ser provas vivas da transformação que o Evangelho produz nas pessoas. Após terem sido ensinados na Palavra e terem mudado de vida, os moradores de Antioquia passaram a notar a diferença e, cumprindo o que disse Jesus a respeito do efeito das boas obras dos seus discípulos, passaram a chamar os discípulos de “cristãos”, isto é, “parecidos com Cristo”, “semelhantes a Cristo”(At.11:26). Eram os homens glorificando ao Pai que está nos céus (Mt.5:16). Era o resultado do ensino da Palavra.
O “discipulado” não é uma tarefa somente dos novos convertidos, não. Embora muitos considerem que o “discipulado” seja uma tarefa destinada somente aos novos convertidos, ou seja, um período de ensino da Palavra de Deus até o batismo nas águas, temos que a realidade bíblica é bem diferente. Não resta dúvida de que é necessário um discipulado específico para o novo convertido, como, aliás, vimos no episódio da igreja em Antioquia. Entretanto, o discipulado não se encerra com o batismo nas águas do novo convertido que, tendo dado frutos dignos de arrependimento, desce às águas e é inserido na igreja local. O discipulado tem como finalidade o de nos fazer cada vez mais parecidos com o Senhor Jesus; é uma tarefa incessante, que não tem fim.
Discipular é ensinar a Palavra, é aperfeiçoar os santos, é disciplinar em um caminho. É colocar o Caráter de Cristo em outra pessoa, através do ensino e do exemplo. Assim, somente pode ser considerada encerrada quando alguém tiver atingido a perfeição, pois só alguém perfeito não necessita ser aperfeiçoado. Tanto assim é que o apóstolo Paulo afirma que os dons ministeriais devem ser exercidos até que cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo (Ef.4:13). Quem, porventura, chegou a este estágio durante os quase dois mil anos de Igreja? Alguém já chegou à estatura completa de Cristo? Alguém já atingiu a perfeição? Evidentemente que não! Se formos para a história dos grandes homens de Deus, sem dúvida que diríamos que, nos tempos apostólicos, o apóstolo Paulo se encontrava entre aqueles que poderiam ter chegado a este nível. No entanto, o próprio Paulo afirmou que não havia chegado a tal condição (Fp.3:12). Se Paulo que foi mero imitador de Cristo(1 Co 11:1), com recomendação para imitá-lo(Fp 3:17), que teve uma revelação especial de Jesus, não chegou a esta estatura, quem somos nós para dizer que o fizemos? Por isso, indubitavelmente, o discipulado é uma tarefa que nunca há de terminar na Igreja, visto que seu alvo é inatingível. Podemos, mesmo, afirmar que, ao dizer que o objetivo do discipulado é nos levar à estatura completa de Cristo, estamos aqui diante de uma expressão bíblica cujo significado é um só: “devemos aprender sempre”.
2. Que significa ser discípulo? – “Discípulo” significa “aluno”, “aquele que aprende”. A palavra “discípulo”, do grego mathetés, é usada 269 vezes nos Evangelhos e em Atos. Jesus, a exemplo dos mestres judeus do seu tempo (os chamados “rabis”, hoje denominados de “rabinos”), era seguido pelos seus “alunos”, ou seja, por aqueles que queriam aprender as lições do mestre, por aqueles que esperavam aprender do mestre o conteúdo das Escrituras. João tinha os seus discípulos (Mt.9:14), assim como Jesus. Estes “discípulos” eram pessoas que, fundamentalmente, queria aprender com Jesus, tinham interesse em tomar conhecimento daquilo que Jesus lhes queria transmitir e, por causa deste interesse, recebiam a revelação daquilo que estava oculto às demais pessoas (Mt.13:10,11).
Ser “discípulo” de Jesus é querer aprender de Jesus e o próprio Jesus enfatizou que é necessário que aprendamos dEle se quisermos encontrar descanso para as nossas almas (Mt.11:29). Somente sendo “discípulo”, ou seja, querendo aprender a respeito de Jesus, que nada mais é que aprender a respeito das Escrituras (Mt.22:29; Jo.5:39), é que teremos acesso à verdade e, por isso, seremos santificados (Jo.17:17), daremos fruto a ponto de sermos reconhecidos como filhos de Deus (At.11:26) e, por causa disto, desfrutaremos da vida eterna com o Senhor(Mt.13:23,43).
“O discípulo não é mero aprendiz, mas alguém que segue as pisadas de seu Mestre e possui íntimo relacionamento com Ele”.
Nos Evangelhos, Jesus define a palavra discípulo de cinco maneiras:
1) Discípulo é um crente que está envolvido com a Palavra de Deus de maneira contínua – “Dizia, pois, Jesus aos judeus que nele creram: Se vós permanecerdes na minha palavra, verdadeiramente sois meus discípulos” (Jo 8.31).
2) Discípulo é aquele que ama sacrificialmente, sem medir esforços – “Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros” (Jo 13.35); “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e nós devemos dar a vida pelos irmãos”(1 Jo 3.16).
3) Discípulo é alguém que permanece diariamente em união frutífera com Cristo – “Nisto é glorificado meu Pai, que deis muito fruto; e assim sereis meus discípulos” (Jo 15.8).
4) Discípulo é aquele que assume a sua cruz e segue a Cristo –“ Quem não leva a sua cruz e não me segue, não pode ser meu discípulo” (Lc 14.27).
5) Discípulo é aquele que renuncia tudo que tem – “Assim, pois, todo aquele dentre vós que não renuncia a tudo quanto possui, não pode ser meu discípulo” (Lc 14.33).
III. A IGREJA REALIZANDO O DISCIPULADO
O discipulado, ou seja, o ensino da Palavra de Deus, é uma tarefa fundamental e ininterrupta da Igreja. Observe que “fazer discípulos”, “ensinar as nações” é uma ordem de Jesus, exarada no mesmo texto que diz respeito ao batismo nas águas (que estudamos na lição anterior).
O ensino da Palavra de Deus, portanto, é uma necessidade, necessidade esta de que deve a igreja local estar sempre consciente, assim como a de evangelizar. Entretanto, é com tristeza que vemos que, assim como a Igreja está dispersa com respeito à evangelização, como vimos na lição 02, também o está, e até com maior intensidade ainda, com respeito ao ensino da Palavra de Deus.
1. A Igreja deve selecionar pessoas para o discipulado. Para cumprir a tarefa do ensino da Palavra, é preciso, em primeiro lugar, que a Igreja se veja dotada de homens e mulheres preparados para ensinar. Na igreja de Antioquia, Barnabé ao notar a salvação daqueles crentes, imediatamente viajou para Tarso, para trazer a Paulo, pessoa que ele sabia ser preparada e capaz de ensinar aqueles novos convertidos(At 11:25,26).
Um dos grandes problemas que temos visto nas igrejas locais da atualidade é o despreparo das pessoas para ensinarem a Palavra de Deus. Quando falamos em preparo, não estamos nos referindo a escolaridade ou a conhecimento secular de alguém, mas, sobretudo, a seu conhecimento bíblico, a sua capacidade de manejar bem a Palavra da Verdade (I Tm.2:15).
Infelizmente, as atividades de ensino são, quase sempre, as mais desprezadas nas igrejas locais na atualidade. O termômetro desta situação é a Escola Bíblica Dominical, que, segundo pesquisa, apenas 10% dos membros da igreja tem interesse em aprender a Palavra de Deus. Isto é lamentável! Esta situação leva-nos a inferir que é uma das principais razões da frieza espiritual, da influencia mundana e da total desinformação que tem tomado conta do nosso povo nos últimos anos, sem falar nas milhares de vidas que se encontram completamente aprisionados por heresias e falsos ensinos, que têm tomado conta dos nossos púlpitos.
O descaso com a Escola Bíblica Dominical por parte de muitos pastores e dirigentes de igrejas locais, eles próprios eternos ausentes destas reuniões, leva, muitas vezes, à entrega das classes a pessoas despreparadas, que mal sabem para si, que dirá para os outros. Estamos muito longe do modelo bíblico, em que os apóstolos, apesar de serem os principais nomes da igreja, tomavam para si a responsabilidade do ensino da Palavra, ensino este que era prioritário, tanto que a primeira coisa que Lucas faz notar na igreja primitiva é de que eles “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At.2:42).
O ensino da Palavra deve ser a atividade interna prioritária, primordial na igreja local. Depois da evangelização, que é voltada para ganhar almas para o Senhor, que é voltada para os que estão fora da igreja local, para a comunidade, a igreja local deve se preocupar é com o aprendizado de seus membros, com o ensino da Palavra. Assim, as reuniões voltadas para os salvos devem ser, prioritariamente, de ensino da Palavra, de ensino doutrinário. Entretanto, o que se tem visto é uma simples leitura da Palavra de Deus em algumas reuniões, quando o é, sem qualquer exposição ou ensino a respeito dela. Não são poucos, aliás, os crentes que nem mesmo levam suas Bíblias para tais reuniões, pois sabem que nem sequer tais Bíblias serão lidas ou abertas. Estamos, lamentavelmente, a viver os tempos tristes anunciados pelo profeta Amós, tempos de fome e de sede da Palavra de Deus (Am.8:11).
2. A igreja deve concentrar sua atenção sobre os discipuladores. Na força do Senhor, a igreja precisa investir o máximo na preparação de discipuladores, a fim de fazer mais discípulos, e o pastor da igreja é o ponto de partida para a dinâmica do ministério do discipulado.
O progresso do trabalho do discipulador depende muito da visão do pastor da igreja local. Deve partir dele a tarefa do discipulado; ele deve ser o primeiro a ter prazer em ensinar e a se esmerar no ensino da Palavra. Deve ser alguém sempre pronto a elucidar dúvidas doutrinárias dos irmãos, um assíduo freqüentador da Escola Bíblica Dominical, alguém que demonstra esforço e profundidade doutrinária nos cultos de ensino, como também na pregação da Palavra nas reuniões públicas. Não precisa ser um “doutor em Divindade”, um “erudito”, mas precisa, isto sim, demonstrar conhecimento bíblico, intimidade com as Escrituras, precisa ser um obreiro aprovado, que maneja bem a palavra da verdade, e deve exigir de seus auxiliares este mesmo perfil.
O dirigente deve incentivar os seus auxiliares no estudo da Bíblia, inclusive, se necessário, fazendo reuniões de estudos bíblicos com eles, a fim de estimulá-los a manejar bem a palavra da verdade. Deve dar atenção especial ao superintendente da Escola Bíblica Dominical e aos professores da EBD, participando das reuniões preparatórias deles sempre que possível, além de assistir às aulas da EBD, verificando, assim, como está sendo ensinada a Palavra na igreja local.
Com relação aos novos convertidos, é preciso haver um segmento especial da igreja local para deles cuidar. Eles devem ser acompanhados de perto pelos evangelistas da igreja local, que deverão lhes tirar todas as dúvidas que tenham e dar prioridade a que eles aprendam os fundamentos doutrinários, as bases da doutrina cristã. Tais bases estão elencadas pelo escritor aos Hebreus, a saber: arrependimento de obras mortas, fé em Deus, doutrina dos batismos, da imposição das mãos, da ressurreição dos mortos e do juízo eterno (Hb.6:1,2). Tais ensinamentos devem ser dados, de forma sistemática, preferencialmente na Escola Bíblica Dominical, em classe específica para os novos convertidos, a fim de que eles possam, a um só tempo, ter conhecimento das verdades bíblicas essenciais, como também se acostumar a freqüentar a EBD.
3. A igreja deve treinar os seus membros para a tarefa do discipulado. A igreja precisa, no discipulado cristão, de uma visão celestial multiplicadora, selecionando e treinando homens e mulheres para que, por suas vidas santas e ungidas e, pelo ensino das verdades cristãs, possam educar os novos discípulos e torná-los aptos para fazer outros. Mas, para se fazer o discipulado, é indispensável que demos o devido valor à Palavra de Deus, Palavra que o próprio Deus engrandeceu a tal ponto de a pôr acima de Si mesmo (Sl.138:2). Sem esta atitude, de nada adiantará desenvolver “cursos teológicos”, “cursos bíblicos”, “cursos de preparação de obreiros” e tantas outras coisas que têm sido inventadas e postas em prática na atualidade. Se as pessoas não se conscientizarem de que nem só de pão viverá o homem, mas de toda a Palavra que procede da boca de Deus (Mt.4:4), um discipulado não terá êxito em qualquer igreja local. Foi isto que os apóstolos sempre fizeram, a ponto de terem arrogado para si esta tarefa e tê-la posto como prioridade absoluta em seus ministérios.
O ministério de Jesus é o exemplo para a Igreja, que é o seu corpo: Ele pregou o evangelho às ovelhas perdidas da casa de Israel (Mt.10:6;15:24), como também preparou homens e mulheres que pudessem prosseguir a sua obra (Mt.11:1). Se seu ministério se resumisse tão somente na pregação, ante a rejeição de Israel (Jo.1:11), teria havido um fracasso. Entretanto, o Senhor formou um grupo de discípulos que, revestidos de poder, seriam suas testemunhas até os confins da terra (At.1:8).
CONCLUSÃO
A Igreja que não ensinar a Palavra de Deus aos seus integrantes, a começar dos novos convertidos, não estará cumprindo a sua tarefa sobre a face da Terra. Não basta pregar o Evangelho, também é necessário que os novos convertidos a Cristo sejam devidamente instruídas na Palavra do Senhor, tenham conhecimento das Escrituras, sem o que não se tornarão discípulos de Jesus e quem não for discípulo de Jesus não entrará no céu, pois só aqueles que assim se comportarem poderão dar fruto e, portanto, ser considerados como justos e resplandecerem no reino do Senhor, como o Senhor deixou claro na interpretação que deu da parábola do joio e do trigo.
“Centenas de pecadores convertem-se anualmente, experimentam o novo nascimento, mas não chegam à maturidade espiritual, pois lhes faltam pais espirituais. Muitos daqueles que permanecem se desenvolvem com anomalias e atrofias éticas e doutrinárias. Onde estão os discipuladores? Você está disposto a “fazer discípulos”?
Assim como o recém-nascido necessita de cuidados para desenvolver-se de modo saudável, o novo convertido precisa de cuidados espirituais para chegar à maturidade na fé. Isso só é possível se cada crente assumir o inalienável compromisso de ser um discipulador cristão.
Alguém em certo lugar afirmou que a igreja é um hospital. Mas perguntamos: “Será que é uma geriatria?” — uma vez que não há renovação de seus membros. “Será que é uma ortopedia?” — uma vez que o corpo está atrofiado. “Será que é uma pediatria?” — pois todos os que nascem recebem os cuidados espirituais necessários. Façamos de nossas igrejas um hospital geral, que trate do ser humano em todas as suas necessidades espirituais”